“Aula teórica:
(Ingredientes(para 8 pessoas): uma xícara de leite de coco, puro, sem água; uma xícara de azeite de dendê; um quilo de siri-mole. Para o molho: três dentes de alho; sal a gosto; o suco de um limão; coentro, salsa; cebolinha verde; duas cebolas; meia xícara de azeite doce; um pimentão; meio quilo de tomates. Para depois: quatro tomates; uma cebola; um pimentão.
Aula prática:
Ralem duas
cebolas, amassem o alho no pilão;
Cebola e alho
não empestam, não senhoras, são frutos da terra, perfumados.
Piquem o coentro
bem picado, a salsa, alguns tomates, a cebolinha e meio pimentão. Misturem tudo
em azeite doce e á parte ponham esse molho de aromas suculentos (essas tolas
acham a cebola fedorenta, que sabem elas dos odores puros? Vadinho gostava de
comer cebola crua e seu beijo ardia). Lavem os siris inteiros em água de limão,
lavem bastante, mais um pouco ainda, para tirar o sujo sem lhes tirar porém a
maresia. E agora a temperá-los: um a um no molho mergulhando, depois na
frigideira colocando um a um, os siris com seu tempero. Espalhem o resto do
molho por cima dos siris bem devagar que esse prato é muito delicado. (Ai, era
o prato preferido do Vadinho).
Tomem de quatro
tomates escolhidos, um pimentão, uma cebola, tudo por cima e em rodelas
coloquem para dar um toque de beleza. No abafado por duas horas deixem a tomar
gosto…” Dona
Flor”
Jorge Amado, Dona Flor e seus Dois Maridos, 1966
“Por tudo, eram fogueiras de cozinhar, fumaça de alecrim, panela em gancho de mariquita e cheiro bom de carne no espeto, torrada se assando, e batatas e mandiocas, sempre quentes no soborralho. A farinha e rapadura: quantidades. As mantas de carne-ceará. Ao tanto que a carne-de-sol não faltasse, mesmo amiúde ainda saíam alguns e retornam tocando uma rês que repartiam.”
Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, Rio, 1956.
Receita de Carne de Sol acebolada com Batatas
Ingredientes:
Modo de preparo:
Limpe a carne e corte em fatias grossas
Salgue a gosto
Coloque em geladeira numa forma com tampa por 24 a 48 horas
Quando a carne estiver desidratada, escorra os líquidos
Corte em fatias mais finas e coloque leite até cobrir por algumas horas
Lave bem
Aqueça uma panela grande com óleo até esfumaçar
Salteie as fatias de carne e vá colocando em pequenas porções.
Numa outra panelas, aqueça manteiga e doure as batatas e o alecrim
Leia mais em em www.cozinhaousada.com
O lombo era o essencial, e a sua essência era sublime. Por fora era escuro com tons de louro. A faca penetrava nele tão docemente como a alma de uma virgem pura entra no céu. A polpa se abria, levemente enfibrada, muito branquinha, desse branco leitoso e doce que têm certas nuvens às quatro e meia da tarde, na primavera. O gosto era de um salgado distante e de uma ternura musical. Era um gosto indefinível e puríssimo, como se o lombo fosse lombinho de orelha de um anjo louro. Os torresmos davam uma nota marítima, salgados e excitantes da saliva. O tutu tinha o sabor que deve ter, para uma criança que fosse gourmet de todas as terras, a terra virgem recolhida muito longe do solo, sob um prado cheio de flores, terra com um perfume vegetal diluído, mas uniforme. E do prato inteiro, onde havia um ameno jogo de cores cuja nota mais viva era o verde molhado de couve– do prato inteiro, que fumegava suavemente, subia para a nossa alma um encanto abençoado de coisas simples e boas. Era o encanto de Minas.
Rubem Braga, Morro do Isolamento, Rio, 1961.
Leia receita especial de lombo em https://www.tudogostoso.com.br/receita/187047-lombo-de-porco-assado-especial.html
“Quando chegávamos era hora do café na sala de jantar da Inhá Luíza. Café fresco, pelando, bem fraco e servido em xícaras grandes. Vinha forte e era adicionado, na hora, da água quente que a Rosa e a Deolinda despejavam das chaleiras de ferro que tinham que ficar segurando ao lado da mesa. Leite, não. Quando muito, queijo-de-minas para pecar e deixar amolecendo dentro do café fervente. Pão alemão fofo e macio, cheiroso, ao partir, como um trigal. E o cuscuz de fubá doce. Feito em metades das latas do queijo do reino furadas a prego e onde a mistura cozia em cima do vapor de uma panela. Já no jardim se sentia o cheiro do café, do pão, do fubá, do açúcar mulatinho.”
Pedro Nava, Baú de Ossos, Rio, 1972.
Leia receita de cuscuz de fubá doce em https://www.tudogostoso.com.br/receita/93801-cuzcuz-doce.html
Trecho das Cartas Chilenas, onde Tomás Antônio Gonzaga assina como Critilo Tarquínio J.B. de Oliveira
“Agora, Doroteu , mandou dizer-me o nosso amigo Alceu que me embrulhasse no pardo cascão, ou no capote, e que pondo o casquete na cabeça fosse ao Sítio Covão jantar com ele. Eu bem sei, Doroteu, que tinha sopa com ave e com presuntos, sei que tinha de mamota vitela, um gordo quarto; que tinha fricassé, finos doces e de mimosas frutas muitos pratos. Porém, que importa, Amigo? Perdi tudo só para te escrever mais uma carta. Maldito, Doroteu, maldito seja o vício de um poeta, pois o priva de encher o seu bandulho pelo gosto de fazer quatro versos, que bem podem ganhar-lhe uma massada só serve de dano ao corpo , sem proveito d’alma.”
As Cartas Chilenas, São Paulo, Fontes textuais, 1972.
Na culinária portuguesa, a que provavelmente o Inconfidente se referia no texto, fricassé se refere a uma antiga iguaria, de otigem francesa, onde se engrossavam ovos com o suco de limão. No Brasil e em outros países, fricassé refere-se a um guisado com molho branco. Aprenda receita de um fricassé vegano em: https://www.tudogostoso.com.br/receita/198919-fricasse-vegano.html
“País do açúcar:
Começar pelo canudo,
passar ao branco pastel
de nata, doçura em prata,
e terminar no pudim?
Pois sim.
E o que bóia na esmeralda
da compoteira:
molengos figos em calda,
e o que é cristal em laranja,
pêssego, cidra vidrados?
A gula, faz tanto tempo,
cristalizada.”
Receita em
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