Receitas e Histórias

Moqueca de Dona Flor e outras receitas da literatura

  1. Em Dona Flor e seus Dois Maridos, do grande escritor baiano, Jorge Amado, a culinária aparece como um elemento sensual, na descrição da personagem Florípedes, professora de culinária na escola Sabor e Arte. A Moqueca de siri-mole era o prato predileto de Vadinho, receita que aparece na íntegra no livro na citação da da própria Flor

Aula teórica:

(Ingredientes(para 8 pessoas): uma xícara de leite de coco, puro, sem água; uma xícara de azeite de dendê; um quilo de siri-mole. Para o molho: três dentes de alho; sal a gosto; o suco de um limão; coentro, salsa; cebolinha verde; duas cebolas; meia xícara de azeite doce; um pimentão; meio quilo de tomates. Para depois: quatro tomates; uma cebola; um pimentão.


Aula prática:


Ralem duas cebolas, amassem o alho no pilão;
Cebola e alho não empestam, não senhoras, são frutos da terra, perfumados.
Piquem o coentro bem picado, a salsa, alguns tomates, a cebolinha e meio pimentão. Misturem tudo em azeite doce e á parte ponham esse molho de aromas suculentos (essas tolas acham a cebola fedorenta, que sabem elas dos odores puros? Vadinho gostava de comer cebola crua e seu beijo ardia). Lavem os siris inteiros em água de limão, lavem bastante, mais um pouco ainda, para tirar o sujo sem lhes tirar porém a maresia. E agora a temperá-los: um a um no molho mergulhando, depois na frigideira colocando um a um, os siris com seu tempero. Espalhem o resto do molho por cima dos siris bem devagar que esse prato é muito delicado. (Ai, era o prato preferido do Vadinho).
Tomem de quatro tomates escolhidos, um pimentão, uma cebola, tudo por cima e em rodelas coloquem para dar um toque de beleza. No abafado por duas horas deixem a tomar gosto…” Dona Flor”

Jorge Amado, Dona Flor e seus Dois Maridos, 1966

  • Em Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, temos a citação à comida tropeira em Minas:

“Por tudo, eram fogueiras de cozinhar, fumaça de alecrim, panela em gancho de mariquita e cheiro bom de carne no espeto, torrada se assando, e batatas e mandiocas, sempre quentes no soborralho. A farinha e rapadura: quantidades. As mantas de carne-ceará. Ao tanto que a carne-de-sol não faltasse, mesmo amiúde ainda saíam alguns e retornam tocando uma rês que repartiam.”

Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, Rio, 1956.

Receita de Carne de Sol acebolada com Batatas

Ingredientes:

  • 2 kg de carne de alcatra
  • 6 batatas cozidas por quinze minutos e cortadas em rodelas
  • 1 colher de manteiga
  • Ramos de alecrim
  • 2 cebolas grandes picadinhas
  • 2 cebolas picadas grande
  • Óleo vegetal
  • Sal fino a gosto

Modo de preparo:

Limpe a carne e corte em fatias grossas

Salgue a gosto

Coloque em geladeira numa forma com tampa por 24 a 48 horas

Quando a carne estiver desidratada, escorra os líquidos

Corte em fatias mais finas e coloque leite até cobrir por algumas horas

Lave bem

Aqueça uma panela grande com óleo até esfumaçar

Salteie as fatias de carne e vá colocando em pequenas porções.

Numa outra panelas, aqueça manteiga e doure as batatas e o alecrim

Leia mais em em www.cozinhaousada.com

  • O lombinho aparece no livro “Morro do Livramento”, de Rubem Braga.

O lombo era o essencial, e a sua essência era sublime. Por fora era escuro com tons de louro. A faca penetrava nele tão docemente como a alma de uma virgem pura entra no céu. A polpa se abria, levemente enfibrada, muito branquinha, desse branco leitoso e doce que têm certas nuvens às quatro e meia da tarde, na primavera. O gosto era de um salgado distante e de uma ternura musical. Era um gosto indefinível e puríssimo, como se o lombo fosse lombinho de orelha de um anjo louro. Os torresmos davam uma nota marítima, salgados e excitantes da saliva. O tutu tinha o sabor que deve ter, para uma criança que fosse gourmet de todas as terras, a terra virgem recolhida muito longe do solo, sob um prado cheio de flores, terra com um perfume vegetal diluído, mas uniforme. E do prato inteiro, onde havia um ameno jogo de cores cuja nota mais viva era o verde molhado de couve– do prato inteiro, que fumegava suavemente, subia para a nossa alma um encanto abençoado de coisas simples e boas. Era o encanto de Minas.

Rubem Braga, Morro do Isolamento, Rio, 1961.

Leia receita especial de lombo em https://www.tudogostoso.com.br/receita/187047-lombo-de-porco-assado-especial.html

  • Considerado um doa maiores memorialistas da língua portuguesa, meu conterrâneo de Juiz de Fora, Pedro Nava, narra em “Baú de Ossos”

“Quando chegávamos era hora do café na sala de jantar da Inhá Luíza. Café fresco, pelando, bem fraco e servido em xícaras grandes. Vinha forte e era adicionado, na hora, da água quente que a Rosa e a Deolinda despejavam das chaleiras de ferro que tinham que ficar segurando ao lado da mesa. Leite, não. Quando muito, queijo-de-minas para pecar e deixar amolecendo dentro do café fervente. Pão alemão fofo e macio, cheiroso, ao partir, como um trigal. E o cuscuz de fubá doce. Feito em metades das latas do queijo do reino furadas a prego e onde a mistura cozia em cima do vapor de uma panela. Já no jardim se sentia o cheiro do café, do pão, do fubá, do açúcar mulatinho.”

Pedro Nava, Baú de Ossos, Rio, 1972.

Leia receita de cuscuz de fubá doce em https://www.tudogostoso.com.br/receita/93801-cuzcuz-doce.html

  • Jantar no Covão:

Trecho das Cartas Chilenas, onde Tomás Antônio Gonzaga assina como Critilo Tarquínio J.B. de Oliveira

“Agora, Doroteu , mandou dizer-me o nosso amigo Alceu que me embrulhasse no pardo cascão, ou no capote, e que pondo o casquete na cabeça fosse ao Sítio Covão jantar com ele. Eu bem sei, Doroteu, que tinha sopa com ave e com presuntos, sei que tinha de mamota vitela, um gordo quarto; que tinha fricassé, finos doces e de mimosas frutas muitos pratos. Porém, que importa, Amigo? Perdi tudo só para te escrever mais uma carta. Maldito, Doroteu, maldito seja o vício de um poeta, pois o priva de encher o seu bandulho pelo gosto de fazer quatro versos, que bem podem ganhar-lhe uma massada só serve de dano ao corpo , sem proveito d’alma.”

As Cartas Chilenas, São Paulo, Fontes textuais, 1972.

Na culinária portuguesa, a que provavelmente o Inconfidente se referia no texto, fricassé se refere a uma antiga iguaria, de otigem francesa, onde se engrossavam ovos com o suco de limão. No Brasil e em outros países, fricassé refere-se a um guisado com molho branco. Aprenda receita de um fricassé vegano em: https://www.tudogostoso.com.br/receita/198919-fricasse-vegano.html

  • E finalizemos no “País do Açúcar”, de Carlos Drummond de Andrade

“País do açúcar:

Começar pelo canudo,

passar ao branco pastel

de nata, doçura em prata,

e terminar no pudim?

Pois sim.

E o que bóia na esmeralda

da compoteira:

molengos figos em calda,

e o que é cristal em laranja,

pêssego, cidra vidrados?

A gula, faz tanto tempo,

cristalizada.”

Receita em

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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