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Em homenagem a Fidel, falemos dos “habanos”: o ouro de Cuba

Apesar de ganhar cada vez mais adeptos nos dias atuais, a prática coletiva de fumar charutos já existia entre os primitivos habitantes das Américas. Os índios nativos usavam o fumo para rituais e festas. E o costume logo conquistou os colonizadores: quando atravessou o Atlântico em busca de novas terras e tesouros, Cristóvão Colombo não imaginava que, entre seus achados, estariam os charutos. Depois de chegar às ilhas da América Central, o espanhol enviou dois batedores, Rodrigo de Jerez e Luís de Torres, em busca de ouro. Ao invés do metal, os espanhóis encontraram folhas de tabaco. E era na ilha onde hoje se localiza Cuba que os nativos fumavam os chamados “cohibas”, nome dado aos charutos primitivos, e que hoje também é o nome de uma das marcas mais respeitadas em todo o mundo.

De lá para cá muita coisa mudou, mas Cuba continua sendo o maior e mais famoso produtor mundial de charutos. Os fabricados lá são conhecidos como “habanos”, ou “puros”. Especialistas atribuem a qualidade superior dos produtos locais ao solo e ao clima da ilha caribenha. Apesar disso, Cuba tem hoje bons concorrentes mundiais: República Dominicana, México, Costa Rica, Indonésia, Filipinas e o Brasil. Na região do Recôncavo baiano, conhecida como o terroir dos charutos nacionais, são fabricadas marcas respeitadas como Monte Pascal, Aquarius, Dona Flor, Alonso Menendez e Danneman.

A produção do fumo baiano envolve 12 mil trabalhadores. Atualmente, as oito fábricas locais produzem 10 milhões de unidades por ano. Apesar disso, mais de 90% da produção nacional é exportada.

Historicamente, os charutos estiveram ligados ao poder e ao universo masculino.  Personalidades como Fidel Castro, Che Guevara, Winston Churchill, Orson Welles, Tom Jobim, Fernando Pessoa, Groucho Marx, Getúlio Vargas e Villa-Lobos tiveram suas imagens associadas aos charutos.

Mas algumas mulheres furaram o bloqueio deste “Clube do Bolinha”. No cinema, as pioneiras foram as atrizes Greta Garbo e Mae West, seguidas pelas não menos belas Sharon Stone e Demi Moore.  Mas a etiqueta sugere que a forma de acender os charutos seja diferente para eles e para elas: aos homens é permitido acender o charuto diretamente na boca, já as mulheres devem aquecer a ponta, mantendo distância da chama, até que se obtenha o aquecimento adequado, para só então levá-lo à boca. Os formatos mais elegantes para elas são os mais fininhos, como as chamadas panetelas (ver quadro). Apesar disso, regra não existe; afinal, gosto não se discute.

DE OLHO NA QUALIDADE

– Fique atento à cor: os charutos devem ter sempre coloração uniforme dentro da caixa

– O formato deve ser padrão. As folhas devem estar brilhantes, sem cortes ou rachaduras

– A caixa de madeira também deve apresentar cor uniforme, sem manchas ou sinal de fungos ou mofo

– O charuto não pode estar seco. Para testar, retire-o da caixa e aperte ligeiramente. Ele deve voltar facilmente ao formato original

– Sinta o aroma do tabaco, aproximando o charuto a cerca de 30 cm do nariz

– Guarde os charutos longe da luz em excesso, à temperatura entre 15 e 20 graus Celsius e umidade do ar entre 60% e 70%

– O ideal é guardá-los em caixas de cedro forradas, conhecidas como umidificadores, que devem ser limpos periodicamente com vinagre branco diluído em água, para evitar mofo

VOLTA AO MUNDO
Cohiba:  Nome dados aos charutos primitivos, produzidos por índios que habitavam a América Central. A marca Cohiba foi feita para Fidel Castro

Upman: Obra de um banqueiro alemão, a fábrica surgiu em 1844 e é uma das mais antigas marcas do mundo

Hoyo de Monterrey: Dá nome à melhor folha de capa (que recobre o charuto) do mundo, pois é cultivada em San Juan y Martínez, na famosa zona de Vuelta Abajo ‒ a terra do melhor tabaco do mundo

Monte Cristo: Homenagem à novela de Alexandre Dumas, que é contada aos trabalhadores na fábrica, para que não se entediem com o trabalho

Partagas: Famosa pela fábrica, localizada atrás do famoso capitólio de La Habana, em Cuba

Romeo y Julieta: Inspirado na obra de Shakespeare. Os livros do dramaturgo inglês também são lidos nas fábricas para distrair os trabalhadores

OUTRAS NACIONALIDADES:

Arturo Fuente: Produzido na República Dominicana, é o nome de um dos mais respeitados homens do tabaco do mundo

Davidoff: Também dominicana, a Davidoff usa folhas envelhecidas de tabaco para criar seus blends. Durante a Segunda Guerra, a loja de charutos Davidoff, na Suíça, era um porto seguro, o maior cofre de charutos do mundo

Joya de Nicaragua: Nicaraguense, foi a primeira marca de expressão no país; em 1970, era o charuto preferido nos Estados Unidos, fumado por políticos e pessoas da elite norte-americana

 NACIONAIS:

Alonso Menendez: Nasceu da associação entre a tradicional família cubana Menendez e Mário Amerino Portugal.  A marca Alonso Menendez foi lançada em 1980, fica no Recôncavo baiano e é maior produtora de charutos premium do Brasil

Dannemann: Fundada na segunda metade do século XIX pelo alemão Gerhard Dannemann, é a mais antiga fábrica do Brasil

Dona Flor: Marca da Menendez Amerino inspirada na personagem  “Dona Flor e seus Dois Maridos”, do escritor baiano Jorge Amado

Le Cigar: Marca da Manufatura Tabaqueira Le Cigar Ltda., fundada em 1998 pelo baiano Arend Becker e seu sócio Horst Hinrich Richard Schweers

Monte Pascoal: Produzida na Tabacos Mata Fina, que fica em Cruz das Almas, no Recôncavo baiano; é comandada por Lorenzo Orsi e produz fumo de alta qualidade

Siboney: A fábrica fica em São Paulo e os charutos são enrolados 100% a mão, com folhas inteiras, por experientes tabaqueiras de origem cubana

POR DENTRO DAS BITOLAS E FORMATOS

Especiales: comprimento entre 23,5 cm e 24 cm, e diâmetro em torno de 1,9 cm

Double coronas: comprimento de 19 cm e diâmetro de 2 cm

Churchills: nome dado em homenagem ao ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill. Tem dimensões entre 17 cm e 17,5 cm, e diâmetro entre 1,7 cm e 1,9 cm. Tem característica de ser um charuto “masculino”

Coronas: mede de 14cm a 15 cm, e tem larguras entre 1,5 cm e 1,7 cm

Gran coronas: mesmo comprimento dos coronas, com diâmetro de até 1,9 cm Londsdales: comprimento de 15 cm e diâmetro de 1,6 cm e 1,7 cm

Robustos:  medem 12 cm e têm diâmetro de 2 cm

Petits: pequenos charutos medindo 12,5 cm, e diâmetro entre 1,6 cm e 1,7 cm

Panetelas:  também chamados de “cigarritos”, medem de 10 cm a 11 cm e têm largura de 1,2 cm. Muito apreciados por mulheres

Texto: Blima Bracher, Fotos: Divulgação

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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