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Exposição aborda influência chinesa no Barroco Mineiro

Eu já havia reparado nos dragões que seguram as luminárias na Igreja do Pilar. E, olhando amiúde, percebemos que, realmente, a influência oriental está encrostada nas peças barrocas, em igrejas, porcelanas, objetos e esculturas.

A bela sacada de fazer um levantamento sobre o tema partiu do fotógrafo Eduardo Tropia, com a luxuosa curadoria de Margareth Monteiro. O resultado da pesquisa imagética poderá ser conferido no Museu da Inconfidência (Ibram/MinC), na mostra Barroco X Chinesice – A influência chinesa no Barroco Mineiro – Fotografias e Objetos.

A abertura acontece às 20h30min do dia 31 de março, sexta-feira, na Sala Manoel da Costa Athaide, no Anexo do Museu. São objetos do acervo e de coleções particulares, bem como fotografias do mineiro Eduardo Tropia, com o objetivo de analisar a presença da China no Brasil por meio de diferentes manifestações artísticas, entre fins do século XVI a início do século XIX, período em que o Barroco estampava os retábulos sacros, as pinturas, as esculturas e o mobiliário, revelando costumes da vida social de uma “elite” conduzida pelo comércio colonial português.

Os elementos decorativos de origem chinesa observados em diversas igrejas de Minas Gerais, como Ouro Preto, Ouro Branco, Sabará e Tiradentes, inspiraram o processo criativo de Tropia, que utilizou a sobreposição de imagens em uma proposta contemporânea, colocando em destaque os motivos orientais manifestados nas suas fotografias. Em 2016, um dos principais trabalhos que integram a mostra, que utiliza a imagem da Igreja de Santa Efigênia de Ouro Preto como suporte, representou o Brasil na 6th Jinan International Photography, bienal de fotografia da China, com o tema O retorno à sabedoria oriental. A visitação é gratuita e ocorrerá de terça a domingo, das 10 às 18h, até o dia 30 de abril.

Anota aí:

Abertura da exposição Barroco X Chinesice – A influência chinesa no Barroco Mineiro – Fotografias e Objetos
Dia 31 de março, sexta-feira, às 20h30min.
Sala Manoel da Costa Athaide, Anexo I do Museu da Inconfidência. Rua Vereador Antônio Pereira, 33, Centro Histórico.
CURADORIA: Margareth Monteiro e Janine Ojeda.
VISITAÇÃO: Terça a domingo, das 10 às 18h, até 30 de abril de 2017.
ENTRADA GRATUITA

Saiba mais:

Do Diário do Grande ABC

Com a devolução do território de Macau à China, na segunda-feira, o Império Português chegou ao fim. A primeira colônia européia na Asia foi também a última a se libertar, 442 anos depois de conquistada. Os 42 quilômetros quadrados de Macau, área equivalente a 12 Parques do Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo, não representam muito quando se pensa na totalidade dos domínios ultramarinos portugueses do século 16. Macau foi apenas a porção do extremo oriente desse Império que, no auge, teve de prover governadores para a Índia e o Brasil, além das terras no continente africano.
A força dos produtos e da cultura chinesa no Brasil colonial, no entanto, foi bem maior do que a imaginada. Representações de Cristo com olhos puxados, detalhes de pinturas chinesas em igrejas de Minas Gerais, leques comemorativos do desembarque da princesa Leopoldina no Rio, além de milhares de porcelanas, sedas, objetos decorativos e uma herança arquitetônica significativa, são alguns indícios dessa presença. Isso tudo foi sistematizado, após uma pesquisa de 20 anos, no livro “A China no Brasil” (Editora da Universidade Estadual de Campinas, 288 págs, R$ 41,60), do historiador e crítico de arte José Roberto Teixeira Leite.

“Mais do que falar sobre a cultura chinesa, o livro trata dos usos e costumes que foram adotados no país; por exemplo, os fogos de artifício e a medicina”, explica o autor. Traz também informações surpreendentes, como o projeto de substituir a mão-de-obra escrava africana pela “semi-escrava” asiática, em meados do século 19, quando as pressões da Inglaterra pelo fim do escravagismo eram quase insuportáveis. “Propunha-se que os chineses viessem trabalhar por um período de oito anos, ao fim dos quais eles voltariam ao seu país; ocorre que os salários eram tao baixos, que, dificilmente, eles tinham oportunidade de retornar à sua terra, devido às altas dívidas contraídas aqui.”
Essa não seria a primeira vez que chineses viriam ao País para trabalhar. “Os arquivos públicos de Minas Gerais mostram a existência de escravos chineses, que, em geral, trabalhavam como secretários dos portugueses, no período da extração de ouro”, relata Leite. Não se sabe quantos estiveram na extração, mas os semi-escravos do século 19 devem ter chegado a pelo menos quatro mil.

Muitos chineses se suicidaram no Brasil por causa da marginalização que a China impunha àqueles que deixavam as terras. “O chinês que deixa seu país perde o direito de enterrar seus pais, perde sua tradição; ao se suicidar, ele criava um problema moral para seu patrão”, explica. “O projeto de substituição de mão-de-obra abortou devido a uma grande reação, principalmente dos positivistas, que logo começaram a dizer que praticamente não havia diferença entre a escravidão africana e esse sistema de trabalho.”

De todos os produtos chineses importados no Brasil colonial, a porcelana foi a mais difundida. “Chegaram 10 milhões de peças até 1850; eram tao baratas, que era comum usar pratos somente uma vez e, imediatamente, jogar fora”, comenta o pesquisador.

Estudiosos dividem-se quanto a definir a data em que surgiram as primeiras porcelanas na China. Arqueólogos chineses situam a invenção no século 16 a.C., enquanto pesquisadores ocidentais acreditam nao ter sido antes da dinastia Tang (618-906 d.C.). A chegada desses produtos ao Ocidente também ocorreu em período indefinido, mas se deve lembrar que Marco Polo fazia referências a eles no século 13.

O comércio intracolonial – as idas e vindas de embarcações lotadas de produtos entre China e Brasil – era ilegal. Lisboa era o grande empório de todos os produtos chineses e era para lá que eles deviam seguir. “As coisas, porém, não funcionavam exatamente como a lei mandava.” Os produtos vinham clandestinamente até o Brasil e Salvador tornou-se um grande centro de compras. “Muitas vezes, as melhores mercadorias ficavam por aqui”, comenta o historiador. “Isso não é comprovado porque os documentos sobre as embarcações só registram os nomes dos comandantes, mas acredito que grande parte das tripulações da carreira da Índia era composta por chineses; também sabemos que muitos soldados da Bahia e de Pernambuco foram mandados para o Oriente.”

Além disso, a Bahia teve, no início do século 19, uma companhia particular que fazia uma trajetória até Goa, a capital do mundo português na Asia, que administrava Macau.

É comum encontrar em igrejas de Minas Gerais painéis com características chinesas, além de esculturas de representaçoes de santos, ou até mesmo de Cristo, com feições típicas dos asiáticos. “Muitos jesuítas estiveram na China antes de vir para cá e incorporaram traços do modo de ser chinês”, explica Leite. “Eles levaram um susto quando encontraram, nos templos daquele país tao distante, altares com uma figura muito semelhante à Virgem Maria, a deusa da meditaçao budista, chamada Guanyin.” Muitos religiosos acharam que Guanyin era mesmo a Virgem Maria e que, portanto, existia um parentesco direto entre o catolicismo e o budismo. “É um fenômeno de aculturação: eles trouxeram aqueles signos para o Brasil.”

Em 1808, com a abertura dos portos às embarcações européias e norte-americanas, o Brasil deu início à ocidentalização do comércio. Nada impediu, porém, que os portos brasileiros ainda estivessem presentes no imaginário oriental. Um panorama composto de quatro quadros retrata a cidade do Rio no século 19. Foi feito pelo trade painter Sunqua, um chinês que trabalhou entre 1830 e 1870 em Cantão e Macau, mas que algumas fontes dizem ter estado no Brasil quando jovem. Os trade painters, chineses que trabalhavam em técnica e no estilo ocidental para clientes europeus ou norte-americanos, foram a prova de que Oriente e Ocidente ainda tinham muito o que trocar culturalmente.

Com:

#blimabracher @blimabracher

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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