Blima Bracher

Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay

Lendas Urbanas

Crônica, por Blima Bracher

Nesta época de Halloween ou Dia das Bruxas (ou ainda sacis e curupiras, como queiram os mais ufanistas) nos vem a mente personagens que habitam o imaginário mineiro.

Gente de carne e osso que acabou virando lenda urbana ou lendas que fazem gente de carne e osso tremer. Como eu, inclusive.

De loiras, condes e vira-saias, vozes além túmulo vem atiçar nossa imaginação. São saborosas histórias, que vão apimentar um pouco este site. Em Belo Horizonte e Ouro Preto alguns desses entes fantasmagóricos estariam vagando até hoje. Será?

O fantasma da Papuda ou a maldição do Palácio da Liberdade

Quando no final do século XIX, com a proclamação da República, a transferência da capital de Minas para uma cidade moderna significava o rompimento com um passado colonial e monárquico. Para isso, era preciso uma nova Capital, pois Ouro Preto, a velha Vila Rica era símbolo de um passado construído de forma desordenada em busca do ouro.

O Curral del Rey foi o local escolhido. No alto de uma colina, ergueu-se o centro de poder, o Palácio da Liberdade e, na praça de mesmo nome, sugiram as secretarias de Estado, a Biblioteca Pública, a sede da Arquidiocese e outros prédios residenciais, para servirem de moradia para os funcionários da nova capital.

Mas como não poderia deixar de ser, todo palácio que se preza tem fantasmas, e com o Palácio da Liberdade não poderia ser diferente. O que dizem as escrituras é que no local escolhido para se construir o palácio, morava uma senhora arredia e zangada, com um papão enorme, pois sofria de bócio. Tinha um casebre conhecido como a cafua da papuda.

Diz a lenda que o fantasma de uma velha já levou a alma de quatro ex-governadores que morreram no Palácio: Silviano Brandão, em 1902; João Pinheiro, em 1908; Raul Soares, em 1924 e Olegário Maciel em 1933. Alguns funcionários juram, de pé junto, que o ex-governador Olegário Maciel vaga por lá até hoje.

O Conde Bela Morte

Esguio, alto, pálido, cabelos negros e nariz aquilino, era um elegante e culto homem de Belo Horizonte que foi apelidado de Conde Bela Morte. Lembrava o Conde Drácula, pois usava uma capa preta. Apesar de andar constantemente com a mesma roupa estava sempre cheiroso e bem penteado. Nas décadas de 60, 70 e 80 frequentava os saraus literários e, segundo dizem, dormia dentro do cemitério do Bonfim, que naquela época não fechava as portas nunca. Ele aparecia e sumia, andava pela cidade e estava em toda parte. Era onipresente à noite e não andava durante o dia. Dizem que era filho de família rica. Virou noticia nacional quando arranjou uma companheira a Condessa Bela Morte, que, segundo a lenda dormia com ele no Bonfim.

A Loira do Bonfim

É a história de uma linda moça loura que aparece nas imediações do cemitério do Bonfim, na região do bairro Lagoinha. Segundo relatos, ela se veste sempre de branco, pede carona aos motoristas e os leva até às imediações do cemitério. Ao chegar lá, desaparece como fumaça, deixando um rastro de terror no ar.

Carlos Drummond de Andrade faz menção a esse mito belo-horizontino em seu poema “Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte”:
“Eu sou a Moça-Fantasma / que espera na Rua do Chumbo / o carro da madrugada. / Eu sou branca e longa e fria, / a minha carne é um suspiro / na madrugada da serra. / Eu sou a Moça-Fantasma. / O meu nome era Maria, / Maria-Que-Morreu-Antes. / Sou a vossa namorada / que morreu de apendicite, / no desastre de automóvel / ou suicidou-se na praia / e seus cabelos ficaram / longos na vossa lembrança. / Eu nunca fui deste mundo: / Se beijava, minha boca / dizia de outros planetas / em que os amantes se queimam / num fogo casto e se tornam / estrelas, sem ironia. / Morri sem ter tido tempo / de ser vossa, como as outras. (…)

Capeta do Vilarinho

Famosa por suas boates, gafieiras, bailes funks e forrós, a Avenida Vilarinho em Venda Nova (MG) ganhou fama nacional depois que um certo pé-de-valsa começou a levantar poeira por lá. Foi num concurso de dança, num baile funk das Quadras do Vilarinho. Foi num sábado de janeiro, quase no início da madrugada de domingo, que um rapaz chegou à quadra. Chamou a atenção, pois era bem vestido, simpático, usava uma charmosa boina e dançava como poucos. Fosse o ritmo que fosse, ele dominava o salão, do samba à bossa nova, do funk ao bolero. Tirou uma moça local para dançar e o casal encantou a todos deslizando com graça. Já passava da meia noite quando, num rodopia a boina do moço veio ao chão. Para surpresa de todos e principalmente da partner, e, apesar de tentar esconder com as mãos, o rapaz deixou a mostra chifres escuros e pontiagudos. Assustado, o tal capeta fugiu. O segurança que tentou ir atrás dele teve um corte na perna que não cicatrizava nunca, talvez feito pelo rabo da tal coisa. E depois o cheiro de enxofre pairou no ar por todo o salão. Depois, os boatos se espalharam e alguns juraram ter visto a patas de bode.

Cintura Fina

Era um rapaz moreno e magro que se travestia de mulher e frequentava a Lagoinha. Tinha uma habilidade de luta incrível para lutar com a polícia. Manejava bem a navalha e jogava a arma a distância com um elástico. A navalha voltava. Assim como Madame Satã, dizia que tinha parte com o diabo e morava no baixo mundo. Cintura Fina virou uma lenda na década de 50 e inicio dos anos 60 e desapareceu misteriosamente, alguns dizem que foram ao enterro dele.

A Lambreta

Mulher pedinte que estava presente em todos os grandes acontecimentos de BH. Andava com uma mão estendida para ganhar as esmolas e na outra segurava uma galinha. Baixa e gorda e vestia-se de roupa comum e no período mais duro do golpe militar ela era a madrinha dos estudantes. A maior parte conheceu-a nas imediações da Praça Sete. Em cima da roupa de mulher usava um paletó escuro e diziam que onde ela estivesse não teria perigo, pois ela protegia os estudantes da polícia política, como se fosse um amuleto.

Madame Olímpia Vasquez

Era uma espanhola Olímpia Vasquez e era prostituta. Veio para Belo Horizonte e, rapidamente, se tornou cafetina e virou dona do cabaré mais chique da cidade: o Clube Montanhês, na Rua Guaicurus, com lustres de cristal da Boemia e mármore italiano de Carrara. Ela criou uma espécie de código que tinham que seguir determinados padrões éticos e quando morreu no inicio dos anos 70, mereceu páginas inteiras dos jornais locais. Ouve uma época em que o cabaré, no final da década de 30 era frequentado pela nata da política mineira.

O Mão de Luva

O personagem interpretado por Marco Ricca e que arrancou gargalhadas na minissérie “Liberdade, Liberdade”, da TV Globo, teria existido mesmo. Ele seria o garimpeiro português Manoel Henriques, que por volta de 1780 teria fugido de Minas em direção ao município de Cantagalo, atravessando o Rio Paraíba do Sul. Ele e seu bando teriam sido capturados em 1786 pelo Sargento –mor Pedro Afonso Galvão de São Martinho, tendo sido levado preso para Vila Rica (atual cidade de Ouro Preto). Durante os anos em que agiu na região, teria enterrado preciosos tesouros.

Acredita-se que o nome da cidade de Cantagalo deve-se ao fato de que a expedição de Pedro Afonso Galvão de São Martinho, cansada de procurar Mão de Luva, teria sido levada ao local de seu acampamento devido ao canto de um galo.

O Vira-Saia

Famoso contrabandista de ouro que avisava ao seu bando se o ouro iria sair para a capital, a Vila Rica, pelo caminho da Estrada Real ou pelo Passa Quatro. Morava perto do Clube 15 de Novembro, na subida de Santa Efigênia.

O Feiticeiro Gambá

Homem que mexia com magia negra e morava próximo ao Morro do Cruzeiro, onde muitos conhecem como Subida do Gambá. Ele matava pessoas por encomenda e as jogava no fundo da Lagoa, que hoje é conhecida como Lagoa do Gambá. Daí o nome, devido ao cheiro forte de carne podre. Cruuuuuzes!!!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

Categorias:
Crônicas

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Rafael da Silva

Olá gostei das dicas! Vou continuar te seguindo!

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