Crônicas

Tutu à Mineira: história e origem desta iguaria

Diziam os antigos que a farinha servia para “Engrossar o fino, esfriar o quente e aumentar o pouco”. Há de se imaginar, que nos farnéis dos tropeiros, as farinhas engrossavam e até conservavam o feijão. Não tinha essa de feijão fresquinho e “vamos botar água do feijão”, caso a comida fosse pouca para tantos.

Era mesmo a farinha de mandioca ou de milho, mais abundantes em épocas de colonização e grandes expedições tropeiras que enriqueciam o feijão, passando o prato a se chamar Tutu ou mesmo Unguí. Tutu é, provavelmente, uma derivação do idioma africano ou Kitutu.

O feijão era cozinho e incrementado com alho, cebola e bacon. Se fosse mulatinho a mistura era com farinha de milho. Caso o feijão fosse preto, era engrossado com a farinha de mandioca.

A comida tinha que ser seca, para não azedar nos lombos das tropas. Daí, a origem se liga ao século XVI, quando da descoberta do ouro em Minas e pela imensa migração de gente, onde havia escassez de comida.

O pintor e escritor Carlos Bracher, assim relata em seu livro “Ouro Preto – Olhar Poético”: “Os pratos clássicos em Minas são o tutu à mineira, o feijão tropeiro (feito para os viajantes), o frango ao molho pardo e o frango com quiabo, feitos em panela de pedra-sabão e no fogão à lenha.

As saladas não foram muito incrementadas, em parte pela terra mineral, ruim. Só a couve foi mais usada (junto ao angu e nas feijoadas) e o ora-pro-nobis, plantados nos quintais caseiros, onde também se cultivavam salsinha, cebolinha e os chás de várias espécies.

De maneira geral, porém, a questão alimentícia era gravíssima. Pouca comida para muita gente, agravada pela natural dificuldade de transporte, vindos os alimentos sempre de longe, carregados pelos tropeiros. Os cereais vinham da região de Ouro Branco e as carnes do sertão mineiro, vindas em boiadas desde a Bahia ou até mesmo do Rio Grande do Sul. Muito comumente, as pessoas tinham ouro. E não o que comer.”

Hoje , os tempos são outros, e o bom Tutu à mineira é servido com arroz branco, um naco de lombo, torresminho, couve fininha refogada no alho, angu, linguiça e enfeitado com ovos cozidos.

Aprenda a fazer em http://www. tudogostoso.com.br

Foto abaixo: www.casadoouvidor.com.br

Por Blima Bracher #blimabracher @blimabracher
Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

Ver Comentários

Posts Recentes

Sucesso do encontro da Orquestra Ouro Preto e Alceu Valença confirma vocação dos grandes espetáculos na Praça Tiradentes

Ouro Preto assistiu a um belíssimo espetáculo gratuito na Praça Tiradentes: o encontro do grande…

24 de junho de 2025

Congados e Reinados são oficialmente Patrimônio Cultural do Brasil

Imagem: Patrick de Araújo/ PMOP Os saberes do Rosário: Reinados, Congadas e Congados são, oficialmente,…

18 de junho de 2025

Carlos Bracher lança livro na Academia Mineira de Letras

Academia Mineira de Letras recebe o gênio das cores Carlos Bracher no lançamento do livro…

16 de junho de 2025

Concurso de Fotografias para celebrar 45 anos de Patrimônio da Humanidade em Ouro Preto

Prefeitura promove 5º Concurso de Fotografia para celebrar 45 anos de Ouro Preto como Patrimônio…

13 de junho de 2025

Ouro Preto se prepara para o Festival de Inverno em julho

Imagem: Patrick de Araujo Ouro Preto respira arte e cultura ao longo de todo o…

11 de junho de 2025

Obras para prevenir enchentes em pontos estratégicos de Ouro Preto

Imagem: Divulgação/ PMOP A Prefeitura de Ouro Preto realiza ações preventivas contra enchentes e alagamentos…

6 de junho de 2025

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!