Um dos mais importantes intelectuais em atividade no Brasil, o escritor, professor e pesquisador mineiro Silviano Santiago (em foto de divulgação) é o homenageado da mais nova edição especial do Suplemento Literário de Minas Gerais. Autor de romances como “Em Liberdade”, “Heranças” e “Machado”, Silviano é um dos mais respeitados escritores brasileiros em atividade e sua obra acadêmica tem igual respaldo entre os estudiosos. A edição especial será lançada na próxima segunda (16), às 19h, na Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, parte integrante do Circuito Liberdade. O evento conta com a presença do autor, que estará disponível para autógrafos. A entrada é franca.
A edição especial do Suplemento Literário homenageia o autor octogenário por meio de depoimentos de amigos e estudiosos de sua obra. “Essa é uma das mais importantes homenagens que já recebi, ainda mais em um momento em que minha carreira está se completando. Comecei a trabalhar muito cedo, tanto como crítico de cinema, como estudioso das letras em Minas Gerais, meu estado natal. Não há como me sentir mais honrado em ter uma edição do Suplemento Literário dedicado à minha vida intelectual”, diz o autor. “Fico ainda mais feliz por receber uma homenagem desse porte no momento em que meu amigo de juventude Angelo Oswaldo ocupa a cadeira de secretário de Estado de Cultura”, completa.
A história de Silviano há tempos perpassa a trajetória do Suplemento Literário. O secretário Angelo Oswaldo lembra que, quando foi editor do Suplemento, na década de 70, Silviano Santiago lecionava nos Estados Unidos e era entusiasta da publicação. “Não só enviava poemas e textos de sua autoria, como chamava nossa atenção para novos escritores como Cortázar, ainda desconhecido aqui, e divulgava o Suplemento nos meios acadêmicos e literários dos EUA e da França”, disse Angelo, ao considerar a edição especial “uma homenagem perfeita ao colaborador da primeira hora, hoje um dos mais importantes autores do Brasil”.
Organizada pelo pesquisador e professor titular da faculdade de Letras da UFMG, Wander Melo Miranda, a edição especial do Suplemento Literário traz doze textos e reúne nomes como Renato Gomes, da PUC-Rio; Evelina Hoisel, da UFBA; André Botelho, da UFRJ e Ivete Walty, da PUC-Minas. “A organização da edição não poderia ter sido feita por um nome mais apropriado. O Wander é, sem dúvida, quem melhor conhece meu trabalho no Brasil. A edição reflete uma escolha extremamente feliz dos meus colegas e amigos. Foi um prazer ler os vários ensaios reunidos”, comenta Silviano.
Outro destaque da edição é a reflexão proposta por Eneida Maria de Souza, professora emérita da UFMG. Sob o título “Fim de jogo: Beckett em Belô”, Eneida pontua os traços autobiográficos na obra “Mil rosas roubadas”, publicada em 2014, em que o escritor insere as discussões entre ficção e memória, biografia e autobiografia, para retratar o esforço de um professor de história ao biografar seu amigo que padece no leito de hospital. “Disposto a confundir o leitor com afirmações ora irônicas, ora pretensamente sérias sobre a arte biográfica, o romance embaralha conceitos, destrói verdades ligadas à autenticidade de fatos e versões. Nesse misto de registro e ficção, a narrativa assume o pacto paradoxal da literatura, que, segundo o escritor em entrevista, mantém um pé na autobiografia, na biografia e outro na autoficção”, avalia Eneida. Em 2015, “Mil rosas roubadas” foi o vencedor do Prêmio Oceanos de Literatura em Língua Portuguesa, sendo eleito como o melhor livro escrito por um autor de língua portuguesa publicado no Brasil em 2014.
Anota aí:
LANÇAMENTO DO SUPLEMENTO LITERÁRIO DE MINAS GERAIS – EDIÇÃO ESPECIAL SILVIANO SANTIAGO
Data: 16/10/2017
Horário: 19h
Local: Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais (Praça da Liberdade, 21 – Funcionários, Belo Horizonte/MG, telefone 31 3269-1142)
Entrada: Gratuita
A presidente da Academia Mineira de Letras, Elizabeth Rennó convida para o lançamento de seu livro “Arquivos literários” , no dia 21 de outubro, às 18h, na sede da AML, à Rua da Bahia, 1470.
E o ocupante da cadeira número 8 da Academia Mineira de Letras, Rogério Faria Tavares, compartilha com os amantes da Literatura texto em que José Pastore, da Academia Paulista de Letras, se refere ao mais recente livro do acadêmico Ronaldo Costa Couto: “A saga da família Klabin – Lafer”.
TRECHO DA CARTA DE JOSÉ PASTORE A CELSO LAFER
“(…) Não consegui parar de ler. Afastei todas as leituras programadas, rendendo-me à força da curiosidade ao saber que, sem lenço e nem documento, e muito menos um mínimo de recursos (tinha apenas 9 libras esterlinas), Mauricio Freeman Klabin, com apenas 29 anos, embarcou para um país estranho, sem conhecer ninguém e sem falar a língua na esperança (certeza?) de fazer a América. Fantástico!
Dali para frente fui mergulhando na brilhante narrativa. Ao fugir da Lituânia (que conheci bem em estudo que fiz em 2004) onde grassava a pavorosa perseguição russa, que, além da perseguição aos judeus, exigia 18 anos de vida militar (!), Mauricio foi para Londres para enfrentar incontestáveis dificuldades, decidindo, então, com enorme coragem, construir uma família e uma empresa no Brasil.
A descrição da viagem de navio é profundamente comovente – desconforto, sujeira, doenças, etc. Mostra bem o que era o mundo no final do século 19.
Para mim foi uma grande lição de vida ver que de um homem que dormiu em colchão de palha de milho e começou como empregado de uma simples tipografia pudesse nascer um grupo que gradualmente foi se firmando como um poderoso e moderno complexo industrial.
Não há dúvida. Essa é uma das historias mais fascinantes que li sobre os grandes empreendedores brasileiros.
O mais maravilhoso em toda essa história foi constatar a conservação dos princípios que sustentam a valorização da família dentro de cânones éticos e morais. E que, ao longo do tempo, os familiares apreenderam a colocar os interesses da empresa acima dos interesses individuais. Essa é uma força poderosa para enfrentar crises – e não foram poucas – falta de matéria prima, dificuldades técnicas, incêndios pavorosos (em especial em 1963 com a destruição de milhões de hectares de reservas florestais) e grave crise financeira (2002) quando os bens pessoais dos acionistas foram dados como garantia aos bancos, contrariando até mesmo as recomendações dos advogados. Incrível é o valor que a família dá ao seu nome e à empresa! Não foi apenas retórica: foi o desprendimento prático dos bens familiares mais valiosos para fazer sobreviver os bens da empresa.
Igualmente fantástico é o desembarque no Brasil de Wolff Z. Kadischewitz com 7 anos – o futuro Wolff da Klabin (o Príncipe Russo…muito engraçado…) que tanto ajudou a família e o próprio crescimento do fabuloso complexo industrial – tudo com base em sua extraordinária capacidade de bem interagir com as pessoas, formando inclusive uma dupla imbatível com Horacio Lafer nos negócios e na política. Essa é outra história impressionante – o trabalho magistral de Wolff com os governantes do tempo de Getúlio e até mesmo de Juscelino.
Lafer e Klabin são uma só família. Trata-se de um arranjo familiar inusitado. E que se conservou forte até os dias atuais.
Impressionante também é a atenção dada à captação de novos conhecimentos e novas tecnologias ao redor do mundo. Para os Lafer-Klabin o mundo sempre foi pequeno. Ainda nos primeiros anos do século 20, com a maior tranqüilidade, Mauricio embarcou com a família para a Europa precisamente com essa missão para ali idealizar a montagem de uma indústria arrojada e produtiva.
Foi com base na valorização da família, da ética e da moral, associada à uma verdadeira fome de ciência e tecnologia que os descendentes de Maurício vieram a concretizar o seu sonho. Linda história. E muito educativa. Costa Couto relata em detalhes o esforço gigantesco feito por cada um dos membros daquela operosa família e a sua capacidade de enxergar longe toda vez que surgiu uma oportunidade de curto prazo como foi a restrição às importações de papel e de equipamentos fabris no esforço de substituição de importações levado avante pelo Getulio. Mas, tudo feito sem precipitação, sem ousadias ou maluquices e sempre com trabalho sério e honesto. Gostei da frase: para os Klabin-Lafer o verdadeiro lobby era o trabalho – quase todos workholics incuráveis…
Muito bonito também é o apoio da família às obras sociais, à arte e à cultura em geral. Para mim tem sido um privilegio assistir a apresentação de grandes artistas na Fundação Ema Klabin.
Extraordinário é a privilegiada veia de humor de Costa Couto quando insere estórias divertidas como a do Einstein ao dizer que teve apenas uma idéia… que deu muita confusão. Isso, junto com a narrativa precisa ancorada em pesquisa profunda tornou o texto muito leve e provoca a curiosidade do leitor para ir às próximas paginas. Ou seja, o livro foi a união de uma bela historia de vida com uma elegante narrativa literária. Terá de ser premiado com o Jabuti em 2018 como a melhor biografia de 2017. É isso que espero.
Fui devorando as páginas e me sentindo cada vez mais próximo da história que ali ia se desenrolando. Sim, porque chegaram os momentos nos quais curti o cordial convívio com o extraordinário Pedro Piva no Senado Federal para onde ia fazer a minha cruzada em favor da reforma trabalhista. Sempre me recebeu com atenção e interesse em melhorar o Brasil.
O mesmo posso dizer de vocês dois. Horacio – com quem convivi na FIESP e CNI – sempre foi admirado por sua atuação firme no esforço de modernizar aquelas instituições, lutando contra a eternização dos seus dirigentes. O seu artigo sobre o “Sindicalismo sem resultado” publicado na Folha recentemente mostra que Horacio está atento ao que acontece nas entidades empresariais e pode, muito bem, dar um jeito nelas, pois ainda é muito jovem.
E Celso, meu colega da APL e intelectual de respeito (não sabia que ele varava as noites estudando na adolescência… está explicado!) a quem aprendi a respeitar desde os tempos do seu magnífico doutorado em Cornell e dos seus trabalhos sobre Hannah Arendt e Norberto Bobbio. Tive o privilégio de receber seus trabalhos quando se candidatou à APL e o prazer de ler todos. Fiquei emocionado com seu discurso ao prestar uma honrada e justificável homenagem a Antonio Ermírio de Moraes, meu amigo e irmão por mais de 35 anos.
Mas, muita coisa eu não conhecia ou tinha uma informação errada ou parcial sobre pessoas e fatos da realidade brasileira. É o caso da Nitro-Quimica. Sempre achei que a compra da empresa falida nos EUA e a montagem em São Miguel tinha sido obra exclusiva de José Ermírio de Moraes e, vi no livro, que essa ousada operação teve a participação direta dos Klabin. Não conhecia as inúmeras incursões da Klabin a tantos ramos industriais (além do papel e celulose). Não sabia da articulação de Horacio-Getulio-Oswaldo Aranha na criação do Estado de Israel (fabuloso!).
Sabia, porém, que Horacio Lafer tocou violino e que teve um Stradivarius magnífico que, segundo entendo, está atualmente nas mãos da extraordinária Anne Sophie Mutter – valendo uns US$ 15 milhões ou mais.
Empresa competitiva, padrão internacional, bem administrada, presença nas fabricas, atenção aos empregados, valorização do seu capital humano, pesquisa e aperfeiçoamento constantes – são os valores praticados pela Klabin. É hoje em dia o mais bem conceituado complexo industrial do Brasil. Está entre as 10 maiores fabricas do mundo (Projeto MA-1100). Tudo feito com muito planejamento. Gostei da frase lembrada por Horácio: “se tiver apenas 6 horas para derrubar uma arvore, passarei as quatro primeiras afiando o machado” (Abraham Lincoln). A formação dos herdeiros ocorreu e continua ocorrendo nas melhores universidades do mundo. Isso faz muita diferença.
Vou parando por aqui para dizer que adorei ler a belíssima obra de Ronaldo Costa Couto – A saga da família Klabin-Lafer. Vocês estão de parabéns pela escolha desse fabuloso pesquisador. Queiram, por favor, encaminhar meus cumprimentos a ele. Sempre gostei do seu trabalho.”
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.