Crônicas

Ouro Preto: morre artista e arqueólogo de peças, Chiquitão

Chiquitão era dessas figuras que carregam, em si, personagem marcante…Lembro-me, desde pequena, de seus olhos miúdos, tal qual índio Cheyenne . Tinha um ar latino-americano mas era fluido e cosmopolita como um viajante de étnicas galáxias, livre de tempo e espaço. Conseguiu driblar até Einstein e suas teorias .

Era diferente de uma forma natural. Não procurava holofotes e sim a história por traz das peças. Colecionador que era, juntou inúmeras chaves coloniais, chaleiras, ferros de passar. Tudo autêntico. E expunha seus tesouros em belíssimas instalações, onde a repetição do objeto, o valorizava enquanto parte de um todo genial.,

Era figura fácil nos bares de Ouro Preto. Aqueles raízes , nascidos nos anos 70 e que resistiram ao furacão 2000.

Trazia em seu nome, algo incomum. Nascido Luís Antônio Rodrigues, nunca foi um Rodrigues… Era um legítimo Chiquitão. Em Ouro Preto alguns clãs ganham apelidos. Os Chiquitões são os Chiquitões. Assim como os Cambebas são os Cambebas.

Além da poética arqueologia, com chaves mil, como que o guardião de segredos portas adentro nas misteriosas casas centenárias de Ouro Preto , Chiquitão foi agraciado com outros dons. Era muralista, cenógrafo, desenhista e pintor. Ilustrava com certo dom infantil, como se o menino que habitasse nele ainda guardasse um olhar intocado das reminiscências que seu cérebro registrou. Um naif com desenhos tão puros e belos de doer a alma. Chiquitão buscava com sua arte guardar o tempo. O que viu de belo. Toda a magia de Ouro Preto permaneceu intacta nele.

Agora, não passaremos ao lado do Pilar e gritaremos: ” Oh Chiquitão “. E nem veremos mais os olhos se fechando em sorriso largo e as mãos se juntado nos lábios a espalhar, em nossa direção, delicioso beijo fraternal.

Colecionador de objetos coloniais, Chiquitão foi um Arqueólogo Poético

Suas chaves guardavam segredos seculares de Ouro Preto

Último livro ilustrado por Chiquitão com texto de Arnaldo Rocha Filho pela editora Anta. Chiquitão foi também cenógrafo de teatro e cinema

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

Ver Comentários

  • Grande Chiquitão.
    Amigo de longa data e que apesar da distância fisica, mantinha um respeito e admiração mutua.
    Capaz de abrir sua pousada em Lavras Novas aos amigos sem se importar com ganho ou receitas.
    Perda muito grande para o cenário ouropretano.
    Vá em paz meu amigo.

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