Crônicas

Oito reis e suas doenças misteriosas

Como se sabe, a invenção da penicilina, considerada o primeiro antibiótico da humanidade data de 1928. A criação do escocês Alexander Fleming revolucionou o mundo da Medicina.

Outra invenção tão relevante e até mais antiga, foi a da anestesia quando no final do século XIX, dentistas e médicos começaram a utilizar éter etílico como o doutor Crawford Long; o dentista William Thomas Green Morton e o Dr. Oliver Wendell Holmes que denominou o nome anestesia como uma ausência reversível de consciência, em 1846. Também, logo depois, foi descoberto o poder do clorofórmio em 1891, pelo Dr. James Young Simpson.

Detalhes à parte, fato é que, antes destas invenções, as infecções matavam muito mais, as pessoas viviam menos e, quando acometidas por tumores , muitas vezes eram tidas como amaldiçoadas ou enfeitiçadas.

O avanço da medicina foi fundamental para acabar com pestes e doenças, muitas vezes fáceis de serem curadas e cuja existência era associada a eventos sobrenaturais, castigos de divindades, bruxaria, maldições , entre outras coisas. A própria falta de higiene levou milhões de pessoas à morte ainda bem jovens.

Os tratamentos eram com sangrias, sanguessugas, transfusão de sangue de animais, etc. Muitas vezes se embriagava a pessoa a ser submetida a algum procedimento doloroso . Nas Américas mascavam coca. Enfim, eram inúmeras as poções, elixires, rezas e chás, na ausência de um protocolo de Medicina mais eficaz.

Vamos conhecer personalidades da história que tinham doenças , hoje catalogadas, mas que eram desconhecidas em suas épocas?

  • Conde Vlad , o Empalador- governante romeno, nasceu em 1431 e morreu em 1476. Ficou conhecido como Drácula, o Vampiro e foi grande tema para filmes, livros e seriados, inclusive “Drácula”, em exibição na Netflix. Sua fama de mau começa com a prática de empalar os inimigos e ter sede de sangue. Mas, a transformação de seu rosto em uma figura monstruosa pode ser explicada por uma doença hereditária e ligada ao sangue: a Porfiria. Portadores desta doença, quando estão em crise, emagrecem muito, perdem cabelos e não podem ficar expostos ao sol, pois sua pele fica muito fina. Hoje existem tratamentos, mas na época de Vlad, os médicos o mandavam tomar boas porções de sangue quente, para reavivarem sua cor e apetite. Dizem que em crises muito violentas, o doente de porfiria se debate no chão, e tem acessos de raiva , devido à dor.
O Conde Vlad, portador de porfiria
Luke Evans como o Conde Vlad na Série “Drácula”
Conde Vlad sofria de porfiria
  • Ivar Ragnarsson, o Desossado – Líder dos vikings, filho de Ragnar Lothbrok (interpretador por Travis Fimmel na Série “Vikings”), e Aslauga. Tinha as pernas fracas e era, provavelmente, portador da Síndrome de Marfan, um distúrbio raro e congênito que pode atingir ossos, olhos (lembram que seu irmão Sigmund Ragnarsson era conhecido como “Olho de Serpente” por ter um defeito nos olhos”), pulmões e outros órgãos. Ivar (vivido pelo ator Alex Andersen na Série “Vikings”), tinha a síndrome, que pode ser decorrente de infecções e no caso dele comprometeu a transformação das cartilagens infantis, em ossos duros, na vida adulta.
Ivar, o Desossado, vivido por Alexander Andersen em “Vikings”
  • Dom Pedro I era epiléptico – As aventuras amorosas, a estratégia de manter o Brasil unido e sua habilidade como governante, deixam em segundo plano um detalhe na vida deste que foi o Primeiro Imperador brasileiro: Pedro I sofria ataques de epilepsia e tinha que ter a língua puxada e ser imobilizado para não bater sua cabeça contra o chão. Dom Pedro I pode ser visto na novela da Globo, “Novo Mundo”, que está sendo reexibida durante a quarentena. O papel é de Caio Castro.
Dom Pedro I era epilético
Caio Castro, como Pedro I em “Novo Mundo”
  • O Príncipe (Czarevich) Alexei , filho do Czar Nicolau II tinha hemofilia – Depois de quatro filhas mulheres, que não herdariam seu império que cobria um sexto da terra, Nicolau II e sua esposa alemã, a Czarina Alexandra Feodorovna tiveram o Czarevich Alexei. Mas o único herdeiro homem de Nicolau II podia sangrar até morrer, caso tivesse um machucado. A história e o envolvimento do guru Rasputin com a família pode ser vista na Netflix em “Os últimos Czares”, com Robert Jack no papel de Nicolau II. A família foi toda assassinada pelos revolucionários Bolcheviques.
Nicolau II e seus filhos: Alexei, o único menino tinha hemofilia
Cena da Série ” Os últimos czares”
  • Henrique VIII tinha uma ferida incurável na coxa- O rei inglês Henrique VIII, famoso por ter sido casado com seis mulheres (Catarina de Aragão, Ana Bolena, Jane Seymour, Ana de Cleves, Catarina Howard e Catarina Parr) quando jovem, num jogo palaciano teve um acidente. O desafio consistia em dois cavaleiros virem correndo, em direções opostas, com armaduras e de lança em punho. Quem fosse derrubado primeiro perderia do rival. Num destes desafios Henrique foi atingido na coxa pela lança do rival. A ferida nunca se cicatrizou e tinha que ser constantemente drenada, causando fortes dores ao monarca. O fato de não se curar, unido ao excesso de peso de Henrique e seus exageros à mesa, levam a crer que ele poderia ser diabético.
Henrique VIII, o Rei Tudor seria portador de diabetes
Jonathan Rhys Meyers, em ” Os Tudors”
  • Elizabeth, a Rainha Virgem- filha de Henrique VIII e de Ana Bolena, a ruiva teve que enfrentar a meia-irmã Maria I e sua prima Mary Stuart, depois da morte do meio-irmão Eduardo antes de poder reinar. Nasceu em 1533 e morreu em 1603. Reinou de 1558 até sua morte e nunca se casou, apesar no romance com Robert Dudley. Elizabeth I, que foi interpretada por Margot Robbie em “Duas Rainhas” tinha uma doença conhecida como disidrose, que causa bolhas pelo corpo e pode ter fundo emocional. A pessoas fica inchada quando está em surto. Mas as bolhas somem e aparecem, não ficando sempre aparentes.
Elizabeth I se cobria de maquiagem para esconder bolhas no rosto
A atriz Margot Robbie como Elizabeth I : maquiagem fiel às bolhas e inchaço que a rainha sofria , principalmente no calor
  • O rei Carlos II da Espanha tinha lábio leporino – era chamado de O Enfeitiçado. Tinha dificuldades de se alimentar e teve retardo para falar. Tinha a saúde fraca e vergonha de sua aparência, para a qual não havia cirurgia à época. Nasceu em 1661 e morreu aos 39 anos de idade.
Carlos II de Espanha tinha lábio leporino e era chamado de O Enfeitiçado
  • Alfredo I de Wessex- vivido por David Dawson na série “The Last Kingdom”, apensar de ser representado forte em estátuas, o rei Alfredo era franzino e sofria da doença de Crohn, doença gastrointestinal que causa diarreia, cólicas e sangramento retal.
Apesar de representado forte em estátuas, Alfredo de Wessex era franzino e tinha a digestão difícil
Alfredo de Wessex era magro, como seu intérprete David Dawson
Por Blima Bracher #blimabracher @blimabracher
Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

Ver Comentários

  • CARMA,GENTE!TUBERCULOSE.É a causa mortis do ex-imperador do Brasil,segundo a História.Não significa que ele não possa ter tido epilepsia.Como Longinus,centurião romano no tempo de Cristo,Pedro tinha o hábito de apressar a morte do crucificado,espetando-lhe uma lança no peito.No peito,está o coração,origem do mal que apressou a morte do ex-imperador,aos 36 anos

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