Categories: Crônicas

Nós, os BO. BÔ.s

Aqui estou eu, flanando entre a madamice e a mesmice da vida cotidiana.

Pertenço a uma geração que está velha para o trabalho aos 30 e muitos anos. Veículos se fecham e despejam, na rua, colegas tinindo de bons.

Somos os bourgeois bohêmes, ou BO. BÔ.s .  Jornalistas formados na era pós-ditadura, lendo todos os livros sobre guerrilhas. Mas caímos num mercado sem ideal. Então nos equilibramos entre o romantismo de sermos boêmios, mas absorvidos pela “burguesice” vazia das colunas sociais.

Na Fafich ainda se faziam luaus à sextas-feiras, nas salinhas vazias da Pampulha. Tocávamos violão mal dedilhado, ainda com alguma memória afetiva dos departamentos estudantis dos anos de ferro.

Mesmo sendo da era digital, sinto saudades imaginárias das redações com máquinas de escrever, com seus óculos de acetato escuros e cigarros com muita nicotina. Dentes amarelos e ternos de tergal. Café frio no trabalho e cerveja gelada no copo sujo da esquina, no final de cada edição.

Colegas comiam felizes pastéis de vento, com cabeças cheias de ideias.

Hoje, convivemos com a fina flor, dando um lustro de glamour em nossa profissão. Mas cadê o charme genuíno dos jornalistas?

Penso que nascemos pra isso.  Somos como que uma irmandade. Gostamos da cachaça diária das notícias frescas, dos furos e apurações.

Quantas vezes não me vi chorando em meio a passeatas de causas tantas, ou correndo de polícia com os camelôs.

Senti o medo gelado junto a reféns de cadeias. O cheiro forte da carne putrefata nas tragédias diárias que ilustram os jornais.

Me lembro da adrenalina do vestibular. Passei de prima, e bem colocada. Menina do interior, versus as caravanas dos cursinhos. E lá cheguei eu, com meus óculos fundo de garrafa, me sentindo o “ó do borogodó”.

Claro que hoje só poderia ser segunda-feira. Sofro da síndrome do vazio pós domingo.

Aí chega terça e o sufoco vai, aos poucos se dissolvendo. A sexta é um mergulho na alegria fugaz dos copos cheios de ilusão de cevada.

Sábados ensolarados resgatam nossa auto-estima metralhada. Mas domingos prenunciam o vazio das segundas.

 

Foto Reprodução

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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