Crônicas

Igreja do Carmo, por Carlos Bracher

Trata-se a Igreja do Carmo de projeto a quatro mãos, talvez a obra que Aleijadinho mais desejasse, pela fraterna parceria com seu pai. Morre-lhe o pai em 1767, um ano após entregar à Ordem Terceira do Carmo, o risco (nome dado aos projetos arquitetônicos) da Igreja. Logo a seguir, Aleijadinho introduz-lhe alterações substantivas, emprestando maior graça ao templo.

Vê-se claramente o que ainda é do pai e quais intervenções do filho. São duas gerações, duas visões. Se não existisse o Manuel Francisco, talvez não existisse o Antônio Francisco. Pai e filho reaproximam interlocuções de oceânicas espécies: o de além-mar e o de aquém. A substância ultramarina do pai propicia ao filho certa universalidade, uma grandiosidade que ainda não tínhamos.

Havemos de entender que Manuel foi dos mais notáveis homens de seu tempo. Portanto, Aleijadinho tinha ao lado de si o que havia de melhor, como mestre e instrutor. Evidente, isso não é tudo. Seu próprio irmão, Félix, padre e igualmente escultor, nem por isso trilhou êxito idêntico. Faltava-lhe o principal: talento.

Na fachada da Igreja um algo inédito, quando Aleijadinho interrompe as duas colunas, deixando-as suspensas.

Novamente, a pedra-sabão é tramitada, propondo à Virgem do Carmo que seja enlevada por anjos, tendo acima o original óculo trilobado a ampará-la em sua assunção, na mais feminina de todas as fachadas de Aleijadinho.

As paredes laterais da Igreja revelam a sempre ousadia do mestre. Provavelmente, nenhum outro arquiteto à época fizesse o que ele ali fez. Trata-se de brilhante aula de arquitetura, do que seja a arte de pensar espaços dentro de refinada estética. Nestas laterais, na relação dos quatro panos brancos demarcados por cinco colunas,

As paredes laterais da Igreja revelam a sempre ousadia do mestre. Provavelmente, nenhum outro arquiteto à época fizesse o que ele ali fez. Trata-se de brilhante aula de arquitetura, do que seja a arte de pensar espaços dentro de refinada estética. Nestas laterais, na relação dos quatro panos brancos demarcados por cinco colunas, vê-se a progressão de sacadas, janelas, portas e óculos, que se superpõem e se assentam sobre a parede, onde o mestre há de criar.

Aqui, Aleijadinho nos propõe o dinamismo inesperado, não a modulação renascentista ao geométrica e previsível, mas a proposta assimétrica, assindética da fantasia, interrompendo a digressão lógica do pensamento. Esta parede nos infunde a beleza de se ver e fruir, não de falar, conduzindo-nos à sensação de puro prazer.

Aleijadinho nasceu para criar, jamais para repetir. O mesmo pode-se dizer do maior arquiteto brasileiro da atualidade, Niemeyer, donde se percebe idêntica ousadia, justamente vindo buscar significantes elementos no Barroco, inspirando-se nas obras imortais do passado

Os mais lindos crepúsculos são vistos do adro do Carmo. Por que o entardecer cor-de-ferro? Resultante das terras refletindo nas nuvens, o céu se impregna das essências ferruginosas rebatendo os fortes cromatismos, na despedida de cada dia.

fachada da Igreja do Carmo, por Carlos Bracher

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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