No meu batuque, se não entro eu, tu não vai entrar, por Blima Bracher
Ouro Preto de pulsos negros e batuques pretos
Se me vem à casa te ofereço o peito, da galinha gorda do quintal varrido.
E te benzo em óleos e unguentos tantos.
Se da antiga Vila me feriram pés
Hoje do Ouro Preto, sou o preto rei.
Coroa tenho
Se me deu o Pai, a carapaça forte do Leão de Judá
Teço negras cordas em meus carrapichos
E em ventos faço os mais belos desenhos
Em meu caminhar cabe muita ginga
Ou canelas finas de vovô Xará.
Sou Dodô de Elzinha, neto de Dadá.
Filho de Oxalá, espalho em meu terreiro pernas de dançar
Sou da dança o curso, pois que no batuque, se não entro eu, tu não vai entrar
Sou do Carnaval
Tambores ancestrais
Encho de alegria
Teus poros suados
Sou da capoeira, do jogo e do jongo
Sou dos santos mãe
E anjos encarnados
De Aleijadinho, em gulosos olhos a fingir recato.
Os veios lavrados
Em morros cavados
Minas de tesouros
São pra mim sussurros
Quero menos ouro e mais bronzeados
Atados em coloridos panos
A descer os morros
Guardiões do tempo
Das alturas pétreas
Em púrpuras rosas
E casebres rotos
Ricos em sorrisos e feijão de touço
O café coado, a cachaça doce.
Mel pousado em moscas nos nossos altaresContinua depois da publicidade
Do Brasil
O berço dos Congados
Pois à Vila Rica veio sequestrado
Galanga do Congo
Meu Rei destronado
Feito escravo
E depois aclamado: Chico Rey
Rei sou, e serei coroado
(Poesia, de Blima Bracher, em 17 de janeiro de 2020, em homenagem à Casa de Cultura Negra de Ouro Preto)
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.