Crônicas

Crônica e homenagem à comunidade negra dos Arturos

Grande orgulho de Contagem e do Brasil é a comunidade quilombola dos Arturos. O nome vem do antigo patriarca, de nome Artur Camilo Silvério. Até hoje preservam as tradições de cultura e religiosidade negras, como congados e a crença em benzedeiros.

Artur, junto com a esposa Carmelinda Maria da Silva, descendentes de escravos, são os fundadores do local, conhecido como “Domingos Pereira”, próximo a Contagem, atualmente com quase 800 habitantes.

A comunidade tem origens ainda mais antigas. Segundo relatos, o angolano Camilo Silvério da Silva chegou ao Brasil em meados do século 19, vindo em navio negreiro. Do Rio, foi trazido para as Minas Gerais para trabalhar no povoado situado na Mata do Macuco. Era o antigo povoado de Santa Quitéria, hoje Esmeraldas.

Camilo trabalhou como tropeiro em lavouras e casou-se com uma senhora negra, à época, escrava alforriada, Dona Felismiba Rita Cândida. Tiveram seis filhos, entre eles Artur Camilo Silvério, que em 1885, pela lei do Ventre Livre foi para Contagem, casando-se com Carmelinda, deixando dez filhos no povoado. Atualmente estão na quinta geração.

Entre as celebrações, destacam-se o Banto, forma original de batuque; a festa da capina ou “João do Mato”; a Folia de Reis; e a Festa da Abolição da Escravatura, instituindo o Reinado de Nossa Senhora do Rosário, com celebrações de Congados.

Os jovens mantem grupos de dança afro, chamado Arturos Filhos de Zambi.

No ano de 2000, os artistas Carlos e Fani Bracher foram convidados a construírem um monumento de 12 metros de altura, feito a quatro mãos, que pode ser visto na via expressa de Contagem.

Comunidade dos Arturos com Angelo Oswaldo, o arquiteto Gustavo Penna e os artistas Carlos e Fani Bracher
Coluna pintada por Carlos e Fani Bracher na Via Expressa de Contagem

Carlos Bracher trabalha na Coluna dos Arturos
Fani Bracher
Estandartes de Fani Bracher na Festa de Reinado dos Arturos

Carlos Bracher também pintou em 2018 o retrato, ao vivo, do capitão –mor Mário Braz, uma das maiores expressões negras entre os veteranos dos quilombolas.

Bracher pinta Mário Braz, o capitão – mor dos Arturos
A comunidade dos Arturos recebe o retrato do patriarca, pintado por Carlos Bracher

Crônica em homenagem aos Negros, por Blima Bracher

No meu batuque, se não entro eu, tu não vai entrar, por Blima Bracher

Ouro Preto de pulsos negros e batuques pretos

Se me vem à casa te ofereço o peito, da galinha gorda do quintal varrido.

E te benzo em óleos e unguentos tantos.

Se da antiga Vila me feriram pés

Hoje do Ouro Preto, sou o preto rei.

Coroa tenho

Se me deu o Pai, a carapaça forte do Leão de Judá

Teço negras cordas em meus carrapichos

E em ventos faço os mais belos desenhos

Em meu caminhar cabe muita ginga

Ou canelas finas de vovô Xará.

Sou Dodô de Elzinha, neto de Dadá.

Filho de Oxalá, espalho em meu terreiro pernas de dançar

Sou da dança o curso, pois que no batuque, se não entro eu, tu não vai entrar

Sou do Carnaval

Tambores ancestrais

Encho de alegria

Teus poros suados

Sou da capoeira, do jogo e do jongo

Sou dos santos mãe

E anjos encarnados

De Aleijadinho, em gulosos olhos a fingir recato.

Os veios lavrados

Em morros cavados

Minas de tesouros

São pra mim sussurros

Quero menos ouro e mais bronzeados

Atados em coloridos panos

A descer os morros

Guardiões do tempo

Das alturas pétreas

Em púrpuras rosas

E casebres rotos

Ricos em sorrisos e feijão de touço

O café coado, a cachaça doce.

Mel pousado em moscas nos nossos altares

Do Brasil

O berço dos Congados

Pois à Vila Rica veio sequestrado

Galanga do Congo

Meu Rei destronado

Feito escravo

E depois aclamado: Chico Rey

Rei sou, e serei coroado

(Poesia, de Blima Bracher, em 17 de janeiro de 2020, em homenagem à Casa de Cultura Negra de Ouro Preto)

Pedimos justiça por João Alberto.

Bandeira de ferro forjada há mais de 200 anos , em Casa de CulturaNegra Ouro Preto

Por Blima Bracher @blimabracher

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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