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Crônica do Dia das mães: “E quem ficou pra titia?”

O terror das moçoilas era (e sejamos francas, ainda é) ficar pra titia.

Talvez, nem por uma cobrança íntima, afinal, tenho certeza de que muitas de nós sempre tiveram aversão às mamadeiras, papinhas (ai, as terríveis papinhas) e fraldas. Mas por um reflexo social, que nos esfrega na cara, a cada instante, que ser mãe é o maior amor do mundo.

Será? Tenho minhas dúvidas. E certeza de que amor é amor, oras.
Papai conta que uma vez, em seu atelier, ao pintar o retrato de Vinícius de Moraes, eu pequena entrei correndo e interrompi a concentração de ambos. No que meu pai perguntou: – Vinícius, você gosta de crianças? Ao que o poeta respondeu: – Teoricamente, Carlinhos.

Talvez, seja este o meu dilema: teoricamente, eu curtisse ser mãe…

Mas na prática penso, seria diferente…
Quando meu sobrinho Valentim nasceu, minha irmã pediu que eu o levasse para tomar sol no Jardim Botânico. Me instruiu sobre horários, sol no rosto e me deu uma papinha que eu deveria dar a ele com um paninho pra limpar.

Valentim com quase um aninho, que não era bobo nem nada, logo sacou que ali tinha uma cumplicidade de tia. Algo mais matreiro, mais solto. Aquela que ali estava era diferente e deixaria ele curtir cada segundo com uma certa dose de malandragem que as mães não podem se permitir.

Batemos altos papos, que eu registrei no celular. Eu com minha bobeira nata, as gargalhadas convulsivas e ele, no mesmo ritmo, claro, entendendo cada palavra daquele diálogo maluco.

Flanamos por entre as palmeiras. Ele no carrinho, sempre se virava pra me olhar, como que se conferindo se alguém estava no comando. Me olhava, sorria e se voltava tranquilo.

Rimos de um macaco doido, que despistava os guardas e roubava sacos de salgadinhos das lixeiras. Nossos olhinhos puxados faltavam sumir.

Mas, chegou a hora da papinha… E, como previa, o pior aconteceu. Eu morrendo de nojo daquela gosma amarela. E ele comendo e fazendo careta. Metade voltava e eu golfava com as mãos tremendo ao levar aquele suplício pra boca do menino. Resultado: joguei papinha, paninho, colher, babador tudo fora, na primeira lixeira que vi.

E voltamos lindos e revigorados pra casa. Ele num soninho profundo, desta que talvez tenha sido sua primeira aventura malandra de vida.

Ser tia é ter segredinhos, brincadeiras e cumplicidade de irmã.

É se alentar com a presença daquela pessoinha, como uma avó revigora o coração.

É querer o melhor e torcer do fundo da alma, como uma mãe.

Titias tem bossa, borogodó, e um cadim de pimenta e sal.
Ser tia é ter aquela piscadela de olho, pra esconder das mães e avós aquele deslize gostoso que só as titias podem conhecer.

Com:

#blimabracher
@blimabracher

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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