Crônicas

Casa Gucci: império que cai

Casa Gucci: a derrocada dos impérios modernos ou o couro italiano que fala árabe.

Pra se sentir em Roma, nos áureos tempos da Casa Gucci, só mesmo dentro de uma sala de cinema 3D. É possível presenciar e quase sentir o cheiro de Al Pacino em fazendas caiadas de rosa, naquele tom que só o sol da Itália confere aos pigmentos derivados de sangue.

O rosé dos vinhos chega a ser violeta, com a luz dos crepúsculos cruzando taças de cristal.

E Lady Gaga arredondada em modelitos arfantes, típico das donas recém-casadas, atraindo os olhares gulosos de tios. A mesa é farta, os decotes generosos e as jóias pendem em cores e formatos estridentes, como que espadas a roçarem perigosamente pescoços e jugulares.

Pensando bem, jóias são espadas. Elas atraem cobiça e cobiça é guerra.

Desde os impérios medievais, quando a ganância era resolvida no fio da lâmina, impérios modernos são cortados em ações, divididos como cabeças expostas em trocos, nos índices das bolsas de valores.

E o dinheiro mudou de mãos.

E a Europa tem charme, sustentado por

sustentado por dinheiros que falam árabe, japonês, inglês e outras línguas.

Todas traduzidas na linguagem universal: Money.

O verde e vermelho do logotipo da marca veio da selaria de artesãos medievais: os Gucci.

Até o final do século passado, ainda era possível cheirar o couro de curtumes italianos nas maisons da grife.

E as palmilhas descansavam pés granfinos em folhas de ouro 18 quilates.

Mas enquanto as famílias disputam decotes e egos, a bola de irmãos e primos cai em muros altos demais para se escalar.

E um império de glamour e tradição, não tem mais lugar onde o dinheiro torna-se senhor.

A grana pela grana.

Sim: invejam teu nome, tuas conquistam, ignorando que comprar um nome não é o mesmo que assiná-lo.

E só sobraram Jeremy Irons, Adam Driver , Salma Hayek e um surpreendente Jared Leto para contar a história.

Enquanto os herdeiros sem dinheiro chiam. O diretor Ridley Scott espera estatuetas.

Com um roteiro que poderia render uma novela, e  cenas que renderiam um filme em si.

Figurino original (mesmo que sejam réplicas) e trilha sonora que descreve maviosamente uma época.

Casa Gucci ainda pode pendurar uma penca de atores em estatuetas.

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

Posts Recentes

Ela a beijou, e o beijo nao precisava marcar paixão, nem tampouco a promessa de um reencontro

Ela a beijou como a extensão de sua própria carne: tenra, macia, suave, sem pelos…

21 de novembro de 2025

Crônica, por Blima Bracher neste dia da Consciência Negra. Homenagem a Chico Rey, do livro “Lira da Inconfidência “

No meu batuque, se não entro eu, tu não vai entrar Vila Rica de pulsos…

20 de novembro de 2025

Porque insistem, oh velhas pedras?

Porque insistem, velhas pedras, a me sustentarem o corpo? Porque trouxeram-me os tempos de volta…

19 de novembro de 2025

Minha relação de amor e ódio com um senhor italiano nas ruas de Belo Horizonte

Quando o conheci, ele já era um senhor de meia idade. Eu, uma menina recém…

18 de novembro de 2025

Neste novembro chuvoso, trago Lendas Urbanas de BH

Lendas urbanas de BH No alto de um descampado havia uma kafua, onde morava uma…

17 de novembro de 2025

Pouso do Chico Rey tem noite cultural e gastronômica com a presença da historiadora Myriam Ribeiro, os artistas Carlos e Fani Bracher, entre outros grandes nomes

A historiadora Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira é uma das mais importantes historiadores da arqueologia,história…

15 de novembro de 2025

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!