Carregamos na nossa alcunha o valor do trabalho diario. Sim, somos jornalistas, periodistas: estamos todos os dias no ar. Incansáveis perante câmeras e enttevistados. Mas exauridos em coletivas, empurrões, desacatos e muitas vezes, engolidos pelo desprezo de tolos fantoches da mediocridade. Tomamos café de garrafa e fumamos cigarros argutos, como se cada segundo fosse importante ao registro inquieto de nossos olhos. E sim, o são. Estamos no front da notícia. Chorando juntos, sofrendo , sorrindo Ser jornalista é viver com mais urgência o dia a dia. É sorver a vida à flor da pele, em sua essência e fonte mais limpa . É deixar marcas humanas de nossas existências, seja da panela vazia de feijão, seja da feijoada de Dom Ratão. Viramos plantões, com o peito cheio de saudades, mas sorvendo a cachaça do ineditismo. Curiosos em janelas e becos. Correndo atrás de polícia Disfarçados em carros de gueera, infiltrados em porões imundos. Assassinados como Hetzog. Aqui estou eu, flanando entre as surpresas da vida cotidiana. De certa forma fomos resgatafos pela Covid-19. Porque portar um microfone ou caneta ê como usar um escudo. Não enxergamos perigo na adrenalina do trabalho. Nos sacrificamos pra ser os olhos e ouvidos de todos. Pertenço a uma profissão que se entrega em missão. Na Fafich do campus da UFMG, ainda se faziam luaus à sextas-feiras, nas salinhas vazias, mas cheias de orgulho. Tocávamos violão mal dedilhado, ainda com alguma memória afetiva dos departamentos estudantis dos anos de ferro.Mesmo sendo da era digital, sinto saudades imaginárias das redações com máquinas de escrever, com seus óculos de acetato escuros e cigarros com muita nicotina. Dentes amarelos e ternos de tergal. Café frio no trabalho e cerveja gelada no copo sujo da esquina, no final de cada edição.Colegas comiam felizes pastéis de vento, com cabeças cheias de ideias. Penso que nascemos pra isso. Somos como que uma irmandade. Gostamos da cachaça diária das notícias frescas, dos furos e apurações.Quantas vezes não me vi chorando em meio a passeatas de causas tantas, ou correndo de polícia com os camelôs.Senti o medo gelado junto a reféns de cadeias. O cheiro forte da carne putrefata nas tragédias diárias que ilustram os jornais.Me lembro da adrenalina do vestibular. Passei de prima, e bem colocada. Menina do interior, versus as caravanas dos cursinhos. E lá cheguei eu, com meus óculos fundo de garrafa, me sentindo o “ó do borogodó”.Sofro da síndrome do vazio pós domingo.Aí chega terça e o sufoco vai, aos poucos se dissolvendo. A sexta é um mergulho na alegria fugaz dos copos cheios de ilusão de cevada.Sábados ensolarados resgatam nossa auto-estima metralhada. Mas domingos prenunciam o vazio das segundas. Por Tim Lopes, Herzog e tantos outros estamos aqui. Somos evangelistas, cronistas, poetas do cotidiano e heróis incansáveis, mesmo sem visão raio x e sem a roupa de superam por baixo do terno de Clark Kent.
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