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O gênio da letras, Rui Mourão, deixa a direção do Museu da Inconfidência após 43 anos

Sobre o genial romancista e ensaísta Rui Mourão, que ocupou o posto de Diretor do Museu da Inconfidência, por brilhantes  43 anos, escreve o pintor e escritor da Academia Mineira de Letras, Carlos Bracher:

 

RUI MOURÃO, O QUE SEREMOS NÓS?

 Rui e o Museu, histórica simbiose de um homem e uma instituição, no tempo e no espaço, indeléveis. Seja dos labores, inquietudes, dos acalantos avassalados dos encontros, eis os contrapontos de algo a resvalar fábulas: as humanas, régias de preciosismos, quando há essa partita absoluta das esteiras incólumes.

Rui, desse calar, são tantos e muitos: o artista, romancista, articulista, o historiador, a calma revoltosa de um ser inquieto, intelectual do prumo e da fantasia, todavia o mestre do rigor, milimétrico e ascético, esse exemplar da retidão que se vê na diária e insana métrica de anos, décadas subindo e descendo ônibus em horas precisas, em estradas imprecisas.

E lá vai ele, insidioso, o mesmo terninho escuro de sempre, indo e vindo, trazendo tormentas de febris personagens surreais, a assentar-se calmo nos pilares da historicidade, recíproca, retilínea: – do seu caráter e isenção, desse modo de ser que é tudo num só instante, belo e mágico, altaneiro de um homem único perante seu próprio destino.

Que falta farás, amigo! Onde estarão os ruis da vida, dessa interposição entre nós e os enlevos, entre nós, os verbos e os silêncios? Não, não mais te veremos, o silente andante das ruas ouro-pretanas, o que vê, contempla, respira, congraça e administra: ora te veremos nas falas equidistantes do solo amplificado de uma não fala, vazios de uma só lágrima, essa que nos pulsa e adormece, de tristezas, de saudades.

Obrigado, Rui, tu nos fazes melhores e nos mostras que a simplicidade incide na vara principal de nossa válida conduta, como entes, em esperança, subsídios e o porvir de nós mesmos. Tu deixas a Praça, para entrar no seio angular das pirâmides desvanecidas, e ser, doravante, cerne e esfera, documento de si, história de uma autopaixão, memória de sua honrada existência, junto às margens excelsas da amada Elza. É tudo tão comovente, a sagração de um homem. Tanto quanto as talhadas pedras do Museu são essas as estrelas que se iluminam à tua eternidade…

Ouro Preto, 5/10/17

Carlos Bracher

(Membro da Academia Mineira de Letras)

Sobre Rui, também escreve o escritor, ensaísta e intelectual Mauro Werkema:

“Presto minha homenagem ao escritor Rui Mourão  que deixa o Museu da Inconfidência de Ouro Preto após 43 anos na sua direção. E o faz  com o reconhecimento,  respeito e gratidão  dos ouro-pretanos, da comunidade cultural mineira e de todos os amigos  e amigas que o acompanham durante muitos anos e que conhecem  sua fértil  trajetória de  intelectual e gestor público. Rui Mourão  é um típico exemplar  do mineiro dotado dos  melhores  valores da mineiridade e  que, infelizmente,  tornam-se cada vez mais raros  nos sombrios tempos de hoje.  Sóbrio, correto, aplicado,  servidor  público consciente de sua responsabilidade e da sua missão,  um tanto introvertido  mas  atento  a tudo,  politizado, com sólida formação cultural,    rara vocação para a literatura, observador do mundo e das pessoas,  estudioso de Ouro Preto e sua história e sua cultura,  discreto, absolutamente  probo,  Rui Mourão exerceu com absoluta exação  e dignidade a direção do Museu da Inconfidência entre outras funções que desempenhou no  Ministério da Cultura,  no IPHAN e no IBRAM.

Ouro Preto, por seus representantes,  diretores do IPHAN e do IBRAM,  seus antigos amigos, colaboradores e admiradores,  prestam-lhe  merecida homenagem  e exaltam  seu exemplo, vida e obra, marcadas por muitos momentos de dificuldades mas  em que  se destacam as  ações em defesa do patrimônio cultural, pelas inúmeras iniciativas  em defesa do patrimônio artístico mineiro, pela evolução do Museu da Inconfidência, pela  fecunda obra  que com que  enriquece a literatura mineira. Ao Rui, meu agradecimento.”

A Mauro Werkema se junta Carlos Alberto Xavier Vilhena, com as seguintes palavras:

“Excelente, Mauro….

Junto-me a você e a todos aqueles que reconhecem e celebram Rui Mourão como um marco nas artes, na literatura e  na cultura do nosso Estado e até do nosso País.

Como Diretor do Museu da Inconfidência, Rui marcou, de forma indelével, sua longa passagem por Ouro Preto, liderando movimentos, aconselhando na formatação de políticas públicas e na formação de profissionais da área. Tive o privilégio de estar ao seu lado na fundação do Sistema de Museus de Ouro Preto, o primeiro do País devidamente reconhecido pelo Ministério da Cultura, e conviver com ele por anos a fio, nas nossas reuniões mensais, onde sempre exerceu sua influência, sempre  proporcional à importância do Museu que dirigia.

Nesta hora, em que passa o bastão para a não menos competente Dayse Lustosa, Rui, com Certeza, o faz com o melhor dos espíritos e com a consciência tranquilíssima do dever plenamente cumprido.

Parabéns e vida longa para o Rui Mourão.”

Rui Mourão nasceu em Bambuí-MG. Romancista e ensaísta, lecionou Literatura Brasileira na Universidade de Brasília e nas Universidades de Tulane, Houston e Stanford, nos Estados Unidos. Participou dos movimentos das revistas literárias Vocação e Tendência, tendo sido diretor desta última. É membro da Academia Mineira de Letras. Foi editor do Suplemento Literário do Minas Gerais, chefe do Departamento Cultural da Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, diretor-executivo da Fundação de Arte de Ouro Preto, coordenador do Grupo de Museus e Casas Históricas da Fundação Pró-Memória em Minas Gerais e coordenador do Programa Nacional de Museus, as duas últimas funções acumuladas com a de diretor do Museu da Inconfidência, cargo que ocupa desde 1974. Seu último livro publicado é o magistral e imperdível Mergulho na região do espanto, da Editora UFMG, publicado em 2015. A obra completa uma trilogia sobre Ouro Preto, junto com Boca de Chafariz e Quando os demônios descem o morro. O enfoque é o ouro, elemento formador de Vila Rica e Minas Gerais. O leitor tomará conhecimento da epopeia que foi a conquista do território e a resultante política da Inconfidência Mineira, a fracassada conspiração que se transformou em tragédia, mas não deixou de constituir o cimento da libertação do país, quando a independência aconteceu. Com esse pano de fundo, o que se passa é o drama interior de um homem que busca desesperadamente encontrar seu destino.

Entre as diversas premiações e medalhas que recebeu, destacam-se o Reconhecimento Especial do Pégaso, na Colômbia (concorrendo com 427 livros publicados do continente), Ficção 2002 da Academia Brasileira de Letras e Homem do Ano no Brasil em 2009 e 2010 (concedido pelo American Biographical Institute dos USA).  Texto: Secult MG

A solenidade de transferência do cargo acontece nesta quinta-feira, dia 05 de outubro, quando o genial Doutor Rui Mourão encerra suas atividades, dando as boas-vindas à nova diretora do Museu da Inconfidência, a arquiteta restauradora Deise Cavalcanti Lustosa.  Haverá cerimonial de posse, sessão solene organizada pelos vereadores na Câmara Municipal de Ouro Preto, lançamento de livro e abertura de exposição:

PROGRAMAÇÃO – 05 de Outubro, quinta-feira

17h – Auditório, Anexo I – Museu da Inconfidência

Transmissão do Cargo de Direção do Museu da Inconfidência pelo Instituto Brasileiro de Museus, com a presença do Presidente, Marcelo Mattos Araujo, seguida de homenagem dos servidores.

19h – Câmara Municipal de Vereadores (Praça Tiradentes, 41)

Homenagem da Câmara Municipal de Ouro Preto a Rui Mourão pelos serviços prestados ao Município através do Museu da Inconfidência e entrega de placa em Honra ao Mérito pelo Vereador Chiquinho de Assis.

20h30 – Auditório, Anexo I – Museu da Inconfidência

Lançamento do Livro de Contos “Caderno de Viagens”, de Lucas Carvalho Rôla Santos, e abertura de exposição de mesmo nome na Sala Manoel da Costa Athaide, Anexo I, seguida de confraternização.

ENTRADA GRATUITA.

 

 

 

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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