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A intrigante arte de Pedro Luiz Correia de Araújo é desnudada na mostra “Erótica” no Masp

Entre os nomes que integraram o Salão Revolucionário de 1931 – evento que reuniu a primeira geração de artistas modernistas – estava o de Pedro Luiz Correia de Araújo (1874-1955), junto com outros grandes da pintura como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Di Cavalcanti.

A obra deste mestre, que foi amigo pessoal de Matisse, pode ser conferida até o dia 14 de novembro no Masp, em São Paulo. São 66 trabalhos na mostra Pedro Correia de Araújo: Erótica.

Parte da programação do museu que gira em torno do tema Histórias da Sexualidade – e que inaugurou as mostras de Toulouse-Lautrec e Wanda Pimentel – as pinturas de Correia de Araújo serão divididas em quatro eixos: nus, danças, retratos e a chamada série Erótica.

Nascido em Paris, mas criado em Recife, o artista retratou frequentemente as mulheres negras do País em telas carregadas de sensualidade. Ainda que tenha se debruçado sobre a temática nacional, pouco se sabe sobre a trajetória do pintor. Por isso, o museu lançou também um catálogo com reproduções de obras, documentos raros (como a correspondência com Matisse)  e textos críticos. Fundamental para a história da arte.

Pedro Luiz foi marido de Lili Correia de Araújo, fundadora do Pouso do Chico Rei, em Ouro Preto. Atualmente a pousada histórica (que já hospedou Vinícius de Moraes, Elizabeth Bishop, Jean Paul Sartre, Guignard, Henry Kissinger, Jorge Amado, entre outras personalidades de renome internacional) atualmente é gerida pelo neto do pintor Pedro Luiz, Ricardo Correia de Araújo.

 

Pintor, desenhista e professor, Pedro Luiz Correia de Araújo nasceu em Paris, em 1874 e faleceu no Rio de Janeiro, em1955. De família tradicional pernambucana, é educado em Recife, onde se forma em Direito. Abandona a carreira jurídica e vai a Paris no início do século XX para estudar arte. Afasta-se dos métodos acadêmicos e torna-se autodidata. Aproxima-se de artistas ligados a diferentes vertentes da vanguarda do período, como o pintor Maurice Denis (1870-1943), a quem substitui por breve período, em 1917, na direção da Académie Ranson. Fundada em 1908, essa escola é conhecida por ter como professores artistas, ligados ao movimento Nabi e à estética simbolista. Ainda em Paris, estabelece, em 1918, uma escola de arte, na qual introduz estudos de geometria plástica e cromática.

Quando vem pela segunda vez ao Brasil, em 1929, radica-se na cidade do Rio de Janeiro, onde mantém ateliê e leciona pintura. Participa do Salão Revolucionário de 1931 com trabalhos desenvolvidos entre 1911 e 1930. Contribui na organização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, criado em 1937, tornando-se um de seus principais especialistas. Entre 1935 e 1937, leciona no Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal. No Salão Nacional de Belas Artes de 1947, expõe um quadro-objeto, obra que chama atenção do público. Em 1952, participa do 1º Salão Nacional de Arte Moderna e da Exposição de Artistas Brasileiros, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro MAM /RJ. Mantém durante alguns anos coluna de crítica de arte no jornal carioca Correio da Manhã.

Ainda pouco conhecida e estudada, a obra de Pedro Luiz Correia de Araújo insere-se nos debates artísticos nacionais e internacionais de sua época, procurando relacionar-se com ambos. Uma leve deformação no desenho, enfatizada pelo destaque das linhas de contorno das figuras, e uma construção sempre artificial da luz conferem um aspecto de irrealidade a obras como Les Fantoches (1935), aproximando-as do que o crítico alemão Franz Roh (1890-1965) chama, em 1925, “realismo mágico”1.

Também naturezas-mortas com títulos alegóricos, como Eterno Problema (1937), sugerem diálogos com artistas do Novecento italiano. Por um lado, isso mostra que está atento a determinadas vertentes artísticas internacionais. Por outro, indica que em diversos trabalhos procura participar, ainda que tardiamente, do debate local acerca das possibilidades de uma arte nacional. Pinturas como Mulata e os Arcos 1940, sem abrir mão da referência estética àquelas vertentes, aproximam-se das pesquisas por um tipo humano capaz de representar alegoricamente o Brasil, empreendidas também em obras de Cândido Portinari ( 1903 – 1962) e Di Cavalcanti ( 1897 – 1976).

A representação da nação aparece na escolha étnica das figuras e nas cores verde e amarelo dos trajes que vestem muitas de suas mulheres brasileiras. Também na luz verde e amarela, que banha a figura central do quadro Pureza (1938): uma mulata nua, alegoria da pureza brasileira.

 

Masp: Avenida Paulista, 1578, São Paulo. De 24 de agosto a 18 de novembro

 

Ricardo Correia de Araújo, neto de Pedro Luiz Correia de Araújo

 

Acima, o Artista Pedro Luiz Correia de Araújo, em Paris. Abaixo, carta do amigo Matisse.

 

 

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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