Crônicas

Que os anjos profanos me ergam ladeira acima

Que todos os santos e anjos do Carnaval me ergam.
Que venham asas sobre as ruas de pedras, as ladeiras caídas e os anjos caídos da cachaça.
Que venham Benés, Karans, Pés de Rodo.
Que chispem o chão os capetinhas insanos do Zé Pereira.
Que desçam furiosos os penicos limpos da Bandalheira.
Que me ergam os confetes molhados, de Sinhás Olímpias e Lacaios.
Que chova a chuva das 18 horas do Caixão, entre nuvens que se abrem para os raios de sol.
Que tomem vida os catitões.
Que suem ladeira acima as coxas das mulatas.
Que sorria o povo lindo de minha terra.
Que nossa alegria seja sagrada. Nas cinzas, nunca acabada.
Que de muito rir, possamos chorar. Lágrimas ritmadas entre repiniques e tamborins.
A pele arrepiada da gelada no Toffolo. O brilho lindo das fantasias de outros carnavais.
Que sejam eternos estes cinco dias. Por todas as bocas beijadas,, pelos sorrisos atrás das máscaras. por Vadinho de Dona Flor. Sejamos felizes até transbordar. Lindos, lindos, lindos foliões de minha terra. E que seja Momo o nosso Rei.
Nosso Chico Rey que venha. Dançando escravos de alegrias tantas. Este povo forte que aqui habita.
Que venham muitas orelhas de gatinho, que brotem as pedritas, as noivinhas, os marinheiros, os zorros e a Zorra Geral.
Que a cobra balance no ritmo de uma cartola. Que o Padre Faria arrepie (“Só se chover que eu não saio/ só se eu morrer que eu não caio no meio da multidão. Levando minha Maria longe do Padre Faria, perto do meu coração)”. Que ecoem as janelas elétricas, os calouros chapados de muita festa. E a gente embriagada de compaixão, nesta semana santa de amor. Nada mais sagrado que a lágrima de um pierrot. E que as perucas sejam loucas e os diamantes falsos. Que sejam ouro as lantejoulas, e de borracha as espadas dos piratas. Que sejam muitos os carnavais de minha vida. E que eu, como Vadinho de Dona flor, morra no meio da folia.

Foto: Ricardo Correia de Araújo
Texto:

#blimabracher @blimabracher

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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