Crônicas

Porque pés e sapatos mexem com a libido

O apelo sexual dos sapatos é inconsciente. Algumas mulheres sentem-se nuas quando descalças

“Cada sapato conta uma história”, já dizia Imelda Marcos, esposa do ditador filipino Ferdinando Marcos, justificando sua famosa coleção de mais de três mil pares. E antes de atirar a primeira pedra, saiba que todas nós temos nossa porção Imelda. Afinal, os sapatos povoam o imaginário feminino desde a infância. Crescemos ouvindo a história de Cinderela, cujo sapatinho de cristal, a levou ao reencontro com o príncipe encantado. Seria então o sapato nosso elo perdido com o amor?

Se depender das loucuras que as mulheres fazem por causa dos pares, a resposta é sim. “Saltos que tornam o equilíbrio quase impossível, bicos que dificultam a circulação do sangue nos dedos, tirinhas que cortam os pés: o que para os homens seria uma série de instrumentos de tortura, para nós, mulheres , é objeto de cobiça”, diz a jornalista Leila Ferreira no livro Mulheres, por que será que elas? E esta paixão por sapatos vai além do que nossa vã filosofia possa explicar. Há um lado ligado ao sub-consciente envolvido nisso. “Os pés são a parte do corpo que colocam nossa parte espiritual, sutil, em contato com a terra e suas características materiais e concretas. Assim, o papel dos pés é fazer esta conexão do que vem de cima, o aéreo, com que vem de baixo, o terreno”, explica o psicanalista Aloísio Andrade.

Na nossa tradição ocidental, os pés simbolizam algo concreto e visível objeto de desejo e sedução. Comparando com os seios, as nádegas e as pernas, os pés são geralmente menos estéticos e harmônicos porém talvez venha daí o mistério: é valida a curiosidade de “como será a parte que raramente é bela?” Aí entra o papel dos sapatos, que vão embalar e melhorar a aparência estética de um conteúdo alvo de fetiche.

O apelo sexual inerente aos pés é tanto, que algumas mulheres sentem-se nuas quando descalças. A mulher compra a roupa pelo caimento, já o sapato é aquele que ela olha e diz: quero arrasar. Um scarpin vermelho, por exemplo, desperta o desejo.O fetiche é tão evidente, que no Carnaval, onde toda sensualidade aflora, vemos saltos altíssimos, com amarrações nas pernas, conclui Cláudia Mourão.

O fato é que mulheres poderosas e sensuais são quase sempre associadas a um bom salto. Marilyn Monroe, conhecida por se equilibrar em saltos altíssimos, sempre declarou que as mulheres deveriam agradecer a quem inventou os “high heels.” E o que seria de Carmen Miranda sem suas lendárias plataformas?

O fascínio é ainda maior quando os modelos ostentam generosos saltos. Eles dão à mulher uma sensação diferente: permitem-na experimentar seu corpo de uma maneira outra que não aquele do seu tamanho. Esta satisfação vai torná-la outra para ela mesma. Certamente também lhe permite uma elegância e uma altura, além de uma sensação de remarcação de poder. Tanto é que muitas vezes algumas mulheres acabam literalmente precisando de “descer do salto”. A função deste objeto de fetiche é justamente velar algo, ou seja, o fetiche ao mesmo tempo vela a dificuldade do homem quando este aborda uma mulher – protegendo-o –, e ao mesmo tempo, permite-o aproximar-se dela pois é atraído por ele.

Historicamente, a sensualidade da mulher é também atrelada ao tamanho dos pés. No Japão antigo, por exemplo, as mulheres que tinham pés pequenos eram mais desejadas, algumas chegavam a amputar parte dos pés para ficarem pequenos e atraentes. Eram assim adoradas pelo homem. Na China os pés femininos eram amarrados para não passarem de 15 cm de comprimento.

E atenção rapazes: algumas mulheres escolhem os homens pelo sapato. Se o calçante for de má qualidade elas nem olham. E o sapato, além de bom, deve estar adequado à ocasião. Freud explica.

Coleções Famosas:

– A ex-primeira-dama filipina Imelda Marcos em suas viagens pelo mundo juntou 3 000 pares

-A mitológica Evita Perón tinha 900 pares

-A rainha francesa Maria Antonieta tinha um criado exclusivamente para cuidar dos seus 500 pares de sapatos, catalogados por data, cor e modelo

– A atriz Cláudia Raia tem 300 pares , quase todos com saltos que acrescentam alguns centímetros à sua famosa silhueta de 1,80 metro

– A apresentadora Hebe Camargo tinha mais de 200 pares

Mitologia e Literatura

Afrodite: deusa grega do amor era freqüentemente representada nua, apenas com um par de sandálias nos pés.

Mercúrio: deus romano encarregado de levar as mensagens de Júpiter é representado com asas nos pés. Representa a eloquência, o comércio e a personificação da inteligência.

Cinderela: um sapatinho de cristal perdido no baile é o elo que leva o príncipe encantado e se reencontrar com a amada. O clássico conto de fadas de Charles Perrault, tornou-se célebre no desenho produzido pelos estúdios Disney

O Gato de Botas: Outro conto infantil de autoria Charles Perraul. O filho mais moço de um moleiro recebe como herança um gato. O descontentamento do início torna-se orgulho, depois que o gato demonstra ser um amigo leal e astuto. Com seu par de botas, torna-se veloz e consegue juntar riquezas.

Curiosidades

No Egito Antigo apenas nobres usavam sandálias de couro. Os faraós usavam calçados deste tipo adornados com ouro.

Os gregos, mostraram vanguarda não só na filosofia, na ciência e na política, mas também na moda: estudos mostram que alguns chegaram a usar um modelo diferente em cada pé.

Durante o Império Romano, os calçados denunciavam a classe ou grupo social do indivíduo: senadores utilizavam sapatos em cor marrom, para os cônsules a cor indicada era o branco, já as mulheres calçavam sapatos brancos, vermelhos, verdes ou amarelos.

Na China, o culto aos pés exigia o uso de sapatos de no máximo 15 cm. Para calçá-los, as mulheres tinham os pés enfaixados em um cilindro para não crescerem.

Na Idade Média, a maioria dos sapatos tinha a forma das atuais sapatilhas. Eram feitas de couro. Nobres e cavaleiros usavam botas de melhor qualidade.

Na França, no século XVI, os sapatos ficaram tão estreitos que para calçá-los os pés precisavam ficar mergulhos por uma hora em água gelada.

Durante a Revolução Industrial, no início no século XVIII, na Inglaterra, as máquinas passaram a produzir calçados em larga escala.

www.stealthelook.com.br

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https://vogue.globo.com

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

Ver Comentários

  • Desde criança eu sou fanatico por mulheres de pernas macias e salto alto classico como o da foto, meu desejo é beijar e tocar e nao parar nunca mais.....o prazer ´´é indescritivel..

  • Toda mulher linda e inteligente, deveria deixar-se levar por esse presente. Amo mulheres que usam e abusam dos saltos altos.

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