Crônicas

Parasita: enredo burlesco e a piada do capitalismo globalizado

Minha primeira surpresa: sala cheia em plena segunda. Sinal de que o filme “Parasita”, do cineasta Bong Joon- ho, conseguiu mesmo despertar a curiosidade de uma plateia ocidental acostumada aos tradicionais diretores de Hollywood. A saga da familia do patriarca Ki-Taek, excluída socialmente, por conta de um mundo capitalista selvagem e automatizado que não absorve o inchaço populacional, mostra a realidade de moradores de um subúrbio imundo e sem expectativas. As cenas caricatas provocam risos fáceis , como a dos filhos que se aboletam no banheiro pra pegar sinal gato do wi-fi do vizinho. A mim, logo de cara, o filme pareceu uma grande sátira do canibismo social que assola oriente e ocidente, sem pudores. O pseudo moralismo oriental entra em colapso quando a possibilidade de golpes faceis para subir na vida bate à porta da familia pobre. Igualmente ridícula e vítima de posições herméticas em funções pre-definidas é a apresentação da rica família Park,. Uma matriarca submissa e infantil, com direito a voz contida; um pai padronizado em sua patética rotina; uma filha adolescente reprimida e criada em redoma ; e um filho hiperativo que quebra o minimalismo da mansão, deixando doida a governanta.

A realidade crua e cruel, com cenas grotescas e até sem necessidade, como se apenas o mote do filme , Parasita, justificasse um final sem nexo e até escrachado, deslanchando pra uma parodia infame de filmes tragicômicos . A narrativa irônica pode ser vista como um requintado argumento do diretor, mas a mim, me pareceu um descarrilhamento proposital de como a humanidade pode ser ridícula e podre ao se pendurar apenas na condição social. Como já ouvi: “quem tem apenas dinheiro é muito pobre”.

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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