Lendas urbanas de BH
No alto de um descampado havia uma kafua, onde morava uma velha senhora papuda. Sofria de bócio, doença comum naqueles idos da segunda metade do século XlX e que deixava no papo aparência nada vistosa de inchaço. Dizia-se que a velha era curandeira e muito mal humorada.
O mal humor só fez aumentar quando soube ela que teria que deixar sua cabana, pois ali se ergueria a futura sede do governo de Minas, o Palácio da Liberdade.
A temida senhora só deixou sua choupana arrastada por guardas encarregados do despejo. Não sem antes proferir em alto e bom som sua maldição: todos os governadores que ali habitassem não terminariam o mandato, que seriam sucessivamente interrompidos por terríveis acontecimentos.
Coincidência ou não, alguns governantes mineiros realmente não terminaram seu mandato. João Pinheiro faleceu em 1908, sendo substituído por Júlio Bueno Brandão. Raul Soares faleceu no cargo, sendo substituído em 1924 por seu sucessor, Olegário Maciel. Este, por sua vez veio a falecer de infarto fulminante, em 1933, dentro de uma banheira no Palácio da Liberdade, durante o segundo mandato como presidente de Minas. Isso sem contar algumas mortes trágicas de antigos ocupantes do Palácio, mas já fora do mandato, como foi ao caso de Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves…
Corre a boca pequena que o Palácio da Liberdade tem outras lendas urbanas: num salão nobre, havia um quadro de Belmiro de Almeida retratando uma moça chorando ao ler uma carta. O nome da obra: A Má Notícia. Com medo de mau agouro, um dos ocupantes do Palácio providenciou sua retirada do local. Hoje o quadro compõe a pinacoteca do Museu Mineiro.
E as lendas do Palácio da Liberdade não param por aí. Alguns juram que o prédio é mal assombrado. A ex-curadora Conceição Piló jura que nunca viu nada estranho por lá, mas afirma que o ex-presidente Itamar Franco “costumava brincar que havia alguns fantasmas escutando atrás das portas”, lembra. Já um outro ex-funcionário do local que não quis se identificar, jura que viu vagando pelos salões um senhor idoso e careca, que reconheceu ser bem parecido com um senhor cuja foto está lá: Olegário Maciel. Aquele que morreu na banheira do Palácio, de infarto fulminante. Cruzes…
Como se vê, apesar de jovem, a capital mineira guarda muitas histórias e lendas. Talvez pela origem de seus moradores, muitos vindos de Ouro Preto, antiga capital, ou de outros rincões do interior, onde o assunto nas fazendas à noite costumava incluir assombrações.
É da época dos bondes, uma das lendas urbanas mais comentadas de Belo Horizonte: a Loira do Bonfim. Segundo relatos mais antigos, a misteriosa mulher, bela e simpática costumava assentar-se no último local do bonde. Ali puxava conversa com um cavalheiro, que no ponto final do bonde era convidado a conhecer sua casa. Empolgado o pretendente descia do bonde e quase morria de susto, ao ver a atraente moçoila se dirigir ao cemitério do Bonfim. Sebo nas canelas minha gente!!!
As versões para a Loira do Bonfim são inúmeras: alguns dão conta de que ela pegava taxi no centro da cidade e descia em frente ao cemitério. De tão assustados os taxistas nem cobravam. Outros dizem que ela desaparecia misteriosamente durante a viagem no banco de trás.
O cemitério do Bonfim foi também inspiração para outra figura sinistra que habita o imaginário do belorizontino. O lendário Conde Bela Morte. Era cavalheiro esguio, de nariz aquilino e queixo pontiagudo com cavanhaque. Andava bem vestido, com uma capa preta e penteava os cabelos engomados para trás. Diziam que o conde tinha parte como demônio e falava com os mortos. Ele aparecia sempre à noite e frequentava os principais acontecimentos da vida boêmia de BH. Aversão mineira de Drácula virou notícia nacional, quando arrumou para ele uma companheira, a Condessa da Bela Morte. Tem gosto para tudo.
Outro personagem obsecado pela morte era Jesu Miranda, um poeta, que frequentava o centro de Belo Horizonte na década de 60 e início da de 70. Temática recorrente nos versos de Jesu era digamos ‘a passagem desta para melhor’. Sua obsessão era tanta que certo dia resolveu simular a própria morte. Convidou todos os amigos para seu velório, com data e hora marcadas. Para surpresa dos amigos, num caixão, estava Jesu, morto, com sua barriga proeminente e ares solenes. Depois de muita choradeira e lamentações, o defunto levantou, dando um susto em todos os presentes. Ele queria experimentar Jesu queria experimentar a sensação de estar em seu próprio velório…
Menos funesta, mas não menos assombrosa é a lenda do Capeta do Vilarinho. Esta mais presente no imaginário popular, por ser recente e ter sido divulgada em vários jornais, rádios e tvs. Nos idos dos anos 80, um senhor que prefere não se identificar, lembra que era frequentador assíduo da quadra do Vilarinho. “Eu e minha esposa éramos pés de valsa e todo sábado marcávamos presença. Foi num destes sábados, que o casal se inscreveu para um concurso de dança que haveria na casa. Foi quando na entrada da quadra apareceu um rapaz loiro, alto, de olhos azuis e muito bem vestido de terno preto, sapatos engomados e chapéu escuro. Ele chamou atenção pois era muito bem apessoado e nunca havia entrado lá. Para surpresa dos frequentadores habituais, o desconhecido se inscreveu no concurso. O exímio dançarino deixou todos de boca aberta. Dizem que quando foi agradecer seu par, suspendeu o chapéu e deixou os chifres à mostra. Foi quando os moradores começaram a persegui-lo. O tal dançarino teria pulado um muro alto e deixado forte cheiro de enxofre no ar. Ao passar pelo funcionário da porta, teria esbarrado nele algo como um rabo pontiagudo. Dizem que a ferida do tal porteiro nunca mais se fechou e também cheirava muito mal.
Outro personagem marcante foi o Cintura Fina, que ficou conhecido nacionalmente na minissérie “Hilda Furacão”, exibida pela rede Globo e baseada na obra de Roberto Drummond. Interpretado pelo ator Matheus Nachtergaele, Cintura Fina viveu na capital mineira nos anos 1950 e era homossexual. Morava no baixo meretrício, na zona boêmia da cidade. Era brigador e usava a navalha para se defender e agredir os inimigos. Quase todos os dias virava notícia nos jornais e a polícia dizia que era muito difícil prendê-lo.
Para finalizar a lista, lembramos da Lambreta, que segundo o folclorista Carlos Felipe “Estava sempre presente nos grandes acontecimentos de Belo Horizonte. A lambreta foi uma mulher pedinte de esmola e andava pela rua carregando uma galinha. Baixa e gorda, vestia-se de roupa comum e no período mais duro do golpe militar era tida como madrinha dos estudantes. A maior parte a conheceu nas imediações da Praça Sete. Em cima da roupa usava um paletó escuro e diziam que onde ela estivesse, não teria perigo
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