Portugal é um lugar que nos desperta lembranças adormecidas, de um passado longínquo e sentimentos imemoriais.
Acordei hoje com a notícia do passamento do colega Artur Almeida, e lembrei-me do mal súbito que me acometeu na “terrinha”. Talvez tenha passado momentos parecidos aos derradeiros deste talento do jornalismo que nos deixou tão precocemente.
Estávamos eu e meu pai, retornando da Suíça, depois de uma série de exposições que ele fizera na Europa.
O voo que partira de Zurique faria escala de duas horas em Lisboa e, de lá, seguiríamos viagem para o Brasil. Porém, não foi isso que se sucedeu. O voo da Suíça para Portugal foi um tanto conturbado, com forte nevasca e, chegando em Lisboa eu não quis embarcar, pois tinha palpitações e um sentimento estranho. O coração na boca.
Conseguimos tirar as malas da conexão e, no guichê ouvi a famosa frase que já citei em outra crônica. Expliquei à portuguesinha que estava passando mal e queria transferir o voo para outro dia. Foi quando ela me respondeu: _ Para outro dia não há, apenas para amanhã, ora pois.
Eu e papai, já tontos de sono, pois mal dormíramos na noite anterior, ficamos perdidos em Lisboa, sem saber a quem recorrer. Papai decidiu procurar a Embaixada Brasileira.
Lembro-me de chegar frente a um imponente prédio numa praça ampla. Subi as escadas e, de repente, me veio a nítida sensação de terremoto. Para mim, a terra estava tremendo, apesar de todos a minha volta dizerem que nada sentiam. Minha sensação era tão real, que mal conseguia ficar em pé e me escorava nos móveis.
Lembrei-me que minha mãe me contou que, antes de eu nascer, quando ela e papai moravam em Portugal enfrentaram um terremoto terrível em Lisboa. Também me veio à cabeça o famoso sismo de 1755 que arrasou a cidade e entrou para a história.
Eu, cética como sou, não acredito nessas lembranças imemoriais. Apesar de uma amiga espírita me afirmar que tive uma sensação vinda de outra vida. Será? Não creio, mas também explicação lógica para aquele sentimento da terra tremendo, que só eu sentia, ninguém me deu.
Seguimos eu a papai para a sala do embaixador. Um senhor grisalho e simpático. Pedi licença e deitei-me num sofá. As conversas entre papai e o embaixador iam render muito e fui sentindo meu estado piorar.
Chamei a secretária do embaixador e ela me levou numa farmácia ao lado do prédio. Ao aferir minha pressão a farmacêutica já ligou para um taxi. Papai foi avisado e dali mesmo fomos para um hospital.
Lembro-me do longo caminho que percorremos e eu com a palpitação aumentando e o coração que me batia agora junto ao pescoço.
No hospital, ainda tive que enfrentar uma fila de pessoas sendo chamadas na minha frente, todos nomes bem portugueses e que se repetiam: “Manoels”, “Marias”, “Joaquins”.
Apesar de minhas raízes portuguesas, já que meu avô materno, Vasco Gomes, não deixa dúvidas de sua origem ibérica, demorei a escutar em meio a tantos “Gomes”, o meu próprio “ Gomes” seguido do “Bracher.”
Entrei numa sala onde me retiveram em soro e medicamentos. Minha pressão custou a baixar e eu demorei voltar a mim.
Saí com uma receita de SOS, caso sentisse algo estranho nas próximas horas e a ordem de aferir a pressão durante o restante do dia. Eu, que nunca tive problemas de pressão alta, recebi da médica a seguinte explicação: ¬- “Pessoas regradas, com horários rígidos, costumam estranhar mudanças bruscas, que lhes tirem o chão do cotidiano em outras latitudes e hemisférios. Você teve uma crise de pânico”.
Graças a Deus, tudo voltou ao normal e, nas medidas seguintes de pressão, ela foi baixando gradativamente. A funcionária da Embaixada que nos acompanhou nos acomodou num dos melhores hotéis de Lisboa e ainda nos convidou para uma ceia no belo restaurante “Il Gattopardo”.
No dia seguinte, voltamos ao Brasil, sem nenhum resquício do mal súbito que me acometera no dia anterior.
Deste estranho e inexplicável episódio em Lisboa, lembrei-me hoje, com a notícia do falecimento do extraordinário colega Artur Almeida. Por ele tinha imensa admiração, embora só o tenha conhecido em um estágio de uma semana na “Globo Minas”, com aquele respeito típico de jornalistas “focas” para com os ícones da profissão.
Não sei da saúde de Artur, mas teria ele sentido uma emoção forte e imemorial em terras lusas? O que causou a morte do colega do outro lado do oceano, depois de tantos “Boas tardes” sorridentes com o rosto lívido, em nossos lares, nos deixa uma incógnita na mente. E a grande saudade do semblante franco e confiável, contido em gestos e falas, mas enorme em talento e generosidade.
25/07/2017
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Gosto muito desse tipo de conteúdo um Abraço :)
Muito obrigada!!!
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