Crônicas

Mais uma vez amor

Mais uma vez amor

Em frente ao espelho, Mariazinha penteia cuidadosamente os cabelos, escolhe colares e brincos, a roupa muito bem passada espera em cima da cama. A maquiagem leve e o perfume suave completam o ritual, cumprido religiosamente todas as quartas-feiras e sábados. Enquanto a hora do baile se aproxima ela sente o coração batendo forte, quase no pescoço. A última conferida no espelho vem junto com a dúvida: ­ – “Será que Ivolino vai gostar?”

A ansiedade, típica de adolescente, na verdade ronda a cabeça de uma senhora, avó de cinco netos. Os antigos romanos, diriam que Cupido, fez mais uma vítima. Também conhecido como amor, Cupido era o deus equivalente em Roma ao grego Eros. Filho deVênus e de Marte, andava sempre com seu arco, pronto para disparar sobre o coração de homens e deuses. E, apesar de geralmente ser representado como um menino alado, os ferimentos provocados por suas setas andam despertando amor e paixão em muitos vovôs e vovós.

E o amor na maturidade é um santo remédio, tanto para doenças físicas quanto psíquicas como a depressão. Após a aposentadoria e perdas de entes queridos, o idoso tende a se acomodar. Quanto maior a acomodação maior o isolamenteo socio-familiar. O que gera amgústia e depressão. Por isso, é essencial superar estas perdas e manter o convívio. A busca de um namorado ou companheiro na velhice pode acrescentar alguns anos na vida dos apaixonados. É um cuidado mútuo, um carinho necessário para manter a saúde física, mental e espiritual, afinal quando a mente age o corpo reage tanto para o lado destrutivo quanto para o construtivo.

É por isso que o coração de muitos rapazes e moças maduras andam batendo pra lá dos 90 anos. A pessoa que te completa pode ser outra na terceira idade. O que não se pode é perder o compasso da vida, achar que tudo morre quando um companheiro se vai.

A enternet tem sido grande aliada para quem procure um companheiro maduro. Mas, não se esaueçam: depois da pandemia, é hora de sair, frequentar restaurantes, pistas de dança. Por que não?

Aliás, os mais velhos costumam dar um show na dança de salão. A destreza na pesta deixa todos hipnotizados. O importante é ser feliz. A vida pode te reservar uma surpresa aos 60 anos, 70 anos. O respeito do namoro amaduro é o mesmo da adolescência. A moral é a mesma, não importa que se passaram cinquenta anos. Namoro é namoro. E os pares seguem felizes entre rodopios e olhares apaixonados no salão.

É uma época onde o companheirismo e o cavalheirismo contam mais que a paixão carnal. Se há ou não sexualidade envolvida vai depender de cada casal, mas o mais importante nesta fase é a cumplicidade. Muitas vezes os filhos acham que vão suprir todas as carências dos pais solitários, mas o desejo só é saciado pelo próprio objeto do desejo. O amor filial não supre a falta de um companheiro. Quando os filhos não entendem isso há frustração de ambas as partes. Por isso, se há espaço para um novo amor, a família deve apoiar.

O tempo passa e os conceitos mudam. Os homens estão descobrindo as mulheres mais velhas, eles estão aprendendo que o importante não é só beleza ou juventude e sim, a cumplicidade.

O amor acontece e não se pode lutar contra ele. Prova de que o amor não tem idade e muito menos outros sentimentos derivados dele. É claro que ciúmes há. São sentimentos inerentes ao ser humano em qualquer idade. Resta a todos aprender a perdoar.

E muitos só encontram o par ideal na maturidade . Embalados ao som de valsas, boleros e poesias, os namorados mostram que o território sagrado do romantismo resiste. Corações solitários, voltam a bater no compasso de dois. É cupido pregando peças, mais uma vez o amor!

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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