Crônicas

Crônica, por Blima Bracher neste dia da Consciência Negra. Homenagem a Chico Rey, do livro “Lira da Inconfidência “

No meu batuque, se não entro eu, tu não vai entrar

Vila Rica de pulsos negros e batuques pretos

Se me vem à casa te ofereço o peito, da galinha gorda do quintal varrido.

E te benzo em óleos e unguentos tantos.

Se em Luanda me feriram os pés

Hoje da Vila Rica sou o preto rei.

Coroa, tenho

Se me deu o Pai, a carapaça forte do Leão de Judá

Teço negras cordas em meus carrapichos

E em ventos faço os mais belos desenhos

Em meu caminhar cabe muita ginga

Ou canelas finas de vovô Zambá.

Sou Dodô de Nina, neto de Dadá.

Filho de Oxalá, espalho em meu terreiro pernas de dançar

Sou da dança o curso, pois que no batuque, se não entro eu, tu não vai entrar

Sou da Congadeira

Tambores ancestrais

Encho de alegria

Teus poros suados

Sou da capoeira, do jogo e do jongo

Sou dos santos, mãe

E anjos encarnados

De Aleijadinho, em gulosos olhos a fingir recato.

Os veios lavrados

Em morros cavados

Minas de tesouros

São pra mim sussurros

Quero menos ouro e mais café coado

Atados em coloridos panos

A descer os morros

Guardiões do tempo

Das alturas pétreas

Em púrpuras rosas

E casebres rotos

Ricos em sorrisos e feijão de touço

O café coado, a cachaça doce.

Mel pousado em moscas nos nossos altares

Do Brasil

O berço dos Congados

Pois à Vila Rica veio sequestrado

Galanga, do Congo

Meu Rei destronado

Feito escravo

E depois aclamado: Chico Rey

Rei sou, e serei coroado

P.S. Escultura em pedra-sabão, cobre e folhas de ouro feitavpor Ricardo Knud Correia de Araújo.

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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