Crônicas

Crônica, por Blima Bracher: ” Dormindo com um iceberg “

Certa noite acordei em BH no meu ap e dei de cara com um icebetg virado de costas pra mim. Meu namorado estava sem camisa e aquele contorno lembrou-me um iceberg flutuante na minha cama. Pensei: “Meu Deus, o que este ser está fazendo aqui? Não é esta a visão que quero ter todos os dias ao acordar. “. Me levantei em silêncio e fui ao armário onde algumas das peças do vestuário dele estavam penduradas. O que antes era carinho, cheiro bom de paixão, agora não passava de panos inertes a ocuparem o meu espaço. Houve um tempo em que Imaginava aquelas camisas dançado com meus vestidos pelos bailes da vida. Mas tudo, como que por desencanto, se transformou em tecido amorfo e invasivo. Ficaram pra trás os perfumes, as tardes risonhas na cozinha,  os planos para os finais de semana sem plantão na TV..  O que antes me inspirava sumiu como num toque de varinha de condão às avessas. Não existia mais príncipe nem princesa. Traição?   Não. Apenas um desgostar abrupto e seco no meio da noite. Um asco de estar ali. É que a paixão não tinha virado amor. E o vício, como veio passou.: “De repente, não mais que de repente.  .
De repente do riso, fez-se o pranto
Silencioso e branco, como a bruma
E das bocas unidas, fez-se a espuma”. Como sentiu muitas vezes, VInicius de Moraes. Descontentamento na madruga. Paixão é uma droga silenciosa que te arrebata e se cura subitamente. Como um abrir de olhos a noite. Cientificamente , a paixonite aguda dura seis meses e pode se estender a dois anos. A minha durou oito meses , mas a dele continuou. Não adiantaram flores na porta do trabalho, surpresas na porta de casa. Aquilo virou obsessão… E foi preciso uma medida judicial para mantermos 100 m de distância um do outro. Ele sofreu, mas eu fiz o certo. Um dia ouvi uma frase que muito me marcou: ” Blima, ninguém tem o direito de segurar o destino de ninguém”. Certíssimo. Se não quer mais não fique enrolando a pessoa. Pro bem do outro. Afinal a vida é dele. E respirei aliviada porque foi melhor ficar roxa uma vez na vida que amarela por mais alguns anos.


Jornalista / Influencer / Escritora 

blimabracher.uai.com.br

(31) 98389-3066

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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