Crônicas

Crônica: de repente, a veia artística explodiu

Ela estava lá, comigo, pequena, os olhinhos tortos, menesguerados, meio de lado, a convergir, a arguir o mundo. Detalhes, ou seria o mundo? Universo aberto ou viagem infinita pra dentro de uma folha seca. Iria pisar palcos ingleses em pequenos teatros a fazer Shakespeare ou grande telas em produções modestas? A arte corria em mim e me embriagava de lucidez desde sempre, a despeito dos peitos e saltos cintilantes. A adolescência com ares de Paty, mas uma Helena que me acalentava nos sonhos de verão. A infância é fantasia e a arte brota em borbotões de risos sem compromisso ao bel hedonismo do saciar gigante quando o mundo é seu e você é Deus. Aí vem a adolescência e seus enquadramentos. Os maus rebeldes ali encontram a arte, mas os bons rebeldes, aqueles loucos encontram álcool e rock. E ali sepultam seus talentos. Batendo cabeças e adorando ídolos que fabricaram para saciar aquela sede através do espelho. Mas vimos um mundo doente. Então virei foca. Pra quem não conhece o jargão: foca = jornalista iniciante. E fui valente e bebi a cachaça do jornalismo de TV diário, a qual me orgulha todos os dias e machuca de saudades o coração. “É sua bonita, viver é um salto livre”. Adrenalina pura que, em doses excessivas vira depressão, pânico. Só os fortes e inteligentes tem pânico. A ansiedade não habita em tolos, que se consolam com bebidas finas, ou não, como se a vida pudesse ser apenas um grande banquete de vaidades, carros, contas bancárias e aparências. Então, em mim a veia está latente. Meu rebolado e técnica de clássico me jogam à ginga e a dança sempre me segura no ar, como uma physique vertente de la art. E me rodopio e me embriago com funk e fico hipnotizada com a arte que há no quadradinho de oito. Me jogo e me acalmo. Mas ainda não estou curada. A veia está latente, quente e explode. Em meio ao sangue brotam letras e palavra e caligrafia de vários idiomas. Amo os vocábulos e suas danças entre os povos e como se encolhem e enrolam no árabe e se erguem em casinhas japonesas. Sim, a torre de Babel do Netflix me apresenta milhares de olhares e sons possíveis. Belezas orientais, ocidentais e a história que está 9latente em alguns pedaços entupidos das veias. É isso. Tenho que escrever. Escrevo pra não morrer de arte entupida em mim.

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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