Ando pelas ruas de Ouro Preto, mas só minha sombra está refletida no chão. O sol de outono, suave e belo como um beijo apaixonado toca minha pele, que responde em breve êxtase de alegria. A paisagem está tão linda. Mas as ruas estão desertas. Um ou outro ser humano se aproxima sorrateiro. Se está de máscara passa com dignidade. Cada vez mais magros, os cães percebem a ameaça no ar. Já não andam em matilhas, mas se escondem, matreiros atrás de monumentos. Já não brincam entre si para malandrear suas vidas e arrancarem um sorriso nosso pelo caminho. Por um breve momento, vi tudo congelado, como na história da Bela Adormecida. Mas paralisados usávamos máscaras. Cada qual fazendo o mesmo por cem anos, congelados como estátuas de sal. Aos poucos, uma aflição coletiva invade a alma. Um chamado de SOS recôndito em olhares tristes. Respiramos fundo. E o ar que invade os pulmões nos dá cinco minutos de conforto. Já não temos calma e vemos vidas transformadas em estatísticas nos jornais. A eficácia das vacinas é questionada. Nada, nada são 50% menos chances de contágio. Mas e as variantes? Antes não existiam. Novas cepas surgem para decepar nossas esperanças e vivemos numa gangorra emocional de medo e dúvidas. Dúvidas e dividas. É preciso cortar gastos, pequenos instantes de felicidade. Proibido o vinho. Fechados os teatros, calados os artistas, ou enquadrados em lives dentro do celular. Bom, essa já é uma janela. Nela há momentos de prazer. Os mais fortes assumem a dianteira. Vestir um jaleco é como vestir uma armadura e enfrentar a dura realidade dos campos de batalha que se travam em UTIs. Meu Deus, como um ato inconsciente e mecânico como respirar se tornou tormenta? Somos pandêmicos. Uma geração marcada, talvez por uma guerra silenciosa e microscópica chamada Covid-19. Ah… Como eu queria ver o mar…
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