Elas saem, invariavelmente às 17h, de sexta, dos condomínios de luxo na Zona Sul carioca. Deixam pelo ar um cheiro forte de colônia infantil misturado aos unguentos que usam para deixar os cabelos presos em coques alinhados.
Passam pela portaria com o mesmo balanço da Garota de Ipanema indo para o mar e deixam escapar um sorriso maroto,
assim meio de lado, indo embora, loucas por vocês (porteiros)…
Quando juntas lembram um bando de colegiais rodrigueanas, com suas sainhas plissadas, displicentemente, puxadas para cima, deixando as canelas finas, envoltas em grossas meias, ainda mais provocantes.
A mesma malícia, que se esconde por tráĺs dos uniformes brancos, sempre trocados após um incidente infantil, como uma papinha derramada ou uma golfada gigante.
As mais amigas se juntam em botequins, nas esquinas, para uma cerveja gelada e meia hora de papo, antes de sacudirem seus derrières, em duas ou três conduções rumo ao subúrbio. As calças são muito brancas e, invariavelmente, apertadas, deixando à mostra os contornos abundantes da bela miscigenação brasileira.
Na sexta, chegam exaustas em suas casas, mas logo soltam a longa cabeleira e aplicam suas unhas postiças enormes. E, claro, sobem num anabela 15. O recato branco fica guardado no armário e toda cor é bem vinda.
Dão o abraço apertado em seus filhos, que deixam, durante a semana, em creches ou com avós, bisavós e tias solteironas.
Os tops e saias curtas revelam enormes tatuagens: muitas rosas e pássaros cobrindo nomes de ex-amores.
E dançam como se não houvesse amanhã nos bailes, nas lajes e clubes. Sim, a noite ali, nos barzinhos e inferninhos é muito mais animada que o tilintar de taças de cristais que os patrões amam, deixando um mês de salário, por um prato assinado pelo renomado chef da vez.
Então elas se fartam de cervejas e cachorros quentes. No sábado tem feijoada, regada com samba e caipirinha. As carnes, carinhosamente, preparadas pelas vovós, as mesmas que saem na ala das baianas no Carnaval.
E o domingo? Ah, o domingo. Este tem cheiro de frango com farofa e maionese, desses de se comer ajoelhado.
Na segunda, de madrugada, beijam seus filhos: três ou quatro, enfileirados num colchão no chão.
E se benzem no altarzinho ecumênico que fica no cantinho da sala.
Seguem rumo aos condomínios da Zona Sul.
Lá, abraçam seus pequenos com o mesmo amor que dedicam às suas próprias crias. Passam com esses bebês, mais tempo que com seus próprios filhos.
E riem de suas gracinhas, sempre lambendo a última colher do Danoninho.
Lá se foram as unhas postiças, os saltos altos, as tatuagens e o colorido.
E são assim, ainda mais atraentes.
Na pracinha, parecem anjos a despertar a curiosidade de senhores aposentados, inebriados com o cheiro da juventude e do talco.
E como sofrem, as babás e seus pequenos quando chega a hora de partir e não mais voltar.
Blima Bracher
Foto: Reprodução
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