Crônicas

Amor vagabundo: crônica, por Blima Bracher

Amor Vagabundo

Tenho um amor a cada esquina.

Alguns me olham com jeito pidão de “me leva pra casa”.

Outros apenas me olham de lado e dão a impressão de sorrir. Saem altivos, com o peso do mundo nas costas e a malandragem de quem conhece a vida.

Outros ainda se esquivam, desconfiados. Olhar de relance, medo do chute. Porque chute na bunda dói. E estes já levaram muitos…

Quem resiste aos vira-latas? Sozinhos, em duplas ou em frágeis matilhas, colorindo as ruas?

São anjos na terra: vagando, vagabundando, ou vagabundeando.

Pedaços de mim que se escondem atrás das igrejas, nos terrenos baldios e matagais.

Adoram festa. Não resistem à praça cheia. Aparecem curiosos às reuniões humanas. Olham com respeito. Esperam migalhas de nossos salgados, um olhar de carinho, um chamado amigo.

Quando sentem que a alma é boa, costumam segui-la por algumas quadras. Até que o cheiro de algum saco de lixo os hipnotize. A fome fala mais alto… E lá se perdem pelas ruas novamente. Vagando, vagabundeando.

Costumo dar nome a estes adoráveis seres: tem um amarelo grande que perambula pela Praça Tiradentes, o Roberto. Lindo e altivo, Roberto é amigo da Judite e colega do Arlindo (que é mais feio que o cão chupando manga, coitado). Mas simpático como um frei gordinho. Aliás, alguns parecem freis gordinhos. Estes eu chamo de Alfredos.

Tem uma matilha descolada no Morro da Forca. Outra que vaga pela pracinha em frente à prefeitura. No Antônio Dias, dois brancos e bem apanhados gostam de ficar ao sol. E alguns magrelos frequentam a Praça da Estação, em busca de restinhos de biscoitos de quem espera o ônibus. A Jandira fica sempre ali.

Nossa Branquinha fez história e virou tema de filme, pelo olhar de Lucas Godoy. Como não adorar aquela senhora vaidosa e carola? Era assídua ouvinte das missas do Pilar e fiel ao saudoso Padre Simões. Ganhava carona dos taxistas para descer ladeira abaixo, quando resolvia marcar ponto em frente ao Lampião.

As fêmeas são heroínas, com seus peitos cheios e costelas murchas.

Já tive muitos caninos. Bolinha foi o primeiro. Depois vieram Zozó, Xodó, Fifi, Mãe, Odara, Lhulhu (que tinha apelido de Luli Liuliu) e Tico. Todos devidamente despachados… Coitados…

Agora tenho o Lupicínio Rodrigues, vulgo Lupe. Vira-lata grande, que mora em Piau e fica doido quando alguém cai na piscina. Tem pavor de água. Rosna e late desesperadamente querendo resgatar os banhistas.

E o Rodrigo, que é meu companheiro. Ficou cego com um aninho, atropelado. Mas me vê como ninguém. Tá aqui agora, dormindo naquele vaivém gostoso de barriguinha cheia. É galante por natureza e já deixou algumas cadelinhas em polvorosa. Camofinha se desmanchava por ele. A Suzy é poodle, e donzela. A Flor podia ser sua avó. Boa mesmo é Lilazulinha.  Mas esta é safada e o troca pelo primeiro grandalhão que abana o rabo na esquina. ww.uai.com.br

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Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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