Crônicas

Joaquin Phoenix é o Melhor Ator pelo Globo de Ouro 2020

A Saga dos Coringas e a risada Infanto-Infernal de Phoenix

Santa maldade, Batman, mas Heath Ledger deve estar se revirando no caixão, agarrado ao Oscar Póstumo que levou por seu Coringa em Batman: O Cavaleiro das Trevas. O galã, falecido precocemente, deixou muitos fãs de Joker desolados. Mas os 15 minutos de fama de Ledger duraram apenas 11 anos. Se atrás da maquiagem, o bonitão construiu a face mais humana e cruel do mega vilão dos comics, o Joker , de Joaquin Phoenix fez mergulho abissal e perigoso no submundo imundo da mente humana. E o pior, o Coringa de Phoenix é fruto do próprio lixo criado pela engrenagem social.

Se o filme começa com um noticiário de Gotham City, dizendo que os ratos estão cada vez maiores e mais perigosos, Arthur Fleck é o próprio roedor gigante, criado nos becos e mazelas da sociedade podre, que se encharca de joias e perfumes blindada por seguranças e grades em seus palacetes ricos. Ricos e banhados a ouro, às custas do inferno obscuro das pocilgas de Gotham, cheia de pobres e marginalizada em sua massacrante maioria.

Uma metáfora atual do sistema falido, onde o lixo de muitos é o luxo de poucos.

Apesar de não ter a arcada dentária coringuesca de Jack Nicholson, que já nasceu Joker e Iluminado, ora soltando sua faísca pela boca, ora pelo olhar, e fulminando de terror as telas quando boca e olhos funcionam juntos (sim, porque a cara de Nicholson já veio lacrada e carimbada de bons personagens, bastando pra isso que o diretor grite “action”), Phoenix consegue a proeza de assustar separando ora bocas, ora olhos ao som de sua risada infanto-infernal. Pra isso, a maquiagem é apenas um adereço que aparece a mais, como uma roupa de luxo, quando Coringa quer ser Joker black tie.

Com ou sem make, Phoenix fulmina o branco borrado de Ledger.

Aliás, sorry, mas Jared Leto e todo o Suicide Squad foram apenas coadjuvantes da Arlequina Margot Robbit e suas Rhorrobbitadas.

O filme de Todd Phillips é dessas sequências alucinantes que a gente devora em salinhas mofadas de cinema. Até me esqueci que estava num Shopping, sala lotada de teens derramando suas pipocas amanteigadas entre os dentes.

Clássicas atrás de clássicas, as tomadas de Todd Phillips são um soco no estômago de cinéfilos alucinados. Só a cena final do filme poderia ter sido escolhida entre umas seis ou sete, sem deixar gosto de “foi só isso?” , como muitos filmes dão a impressão. Aliás, o ponto final é sempre um problema pra diretores em geral.

O que dizer mais? Que me arrepiei quando Coringa se levanta quase morto do camburão, ao som de uma ode de palhaços gritando seu nome? E carrega na maquiagem levando o sorriso de orelha a orelha com o sangue que escorre da boca? Tal qual um príncipe das trevas em corpo de Baryshnikov sorri envergando a coluna?

Aliás, dizer que o ator perdeu 24 quilos pro filme seria tal como constatar o charme de seu lábio leporino…

Então, vamos aos finalmentes: Phoenix me lembrou uma paixão fulminante da adolescência: Brandon Lee , em O Corvo, filme onde o filho de Bruce Lee morre acidentalmente em cena…

Também dizer que segura o cigarro tão sensual quanto Del Toro, mesmo magro e esquelético se friccionando no ar?

Delírios no banheiro quando Coringa pinta os negros de verde?

Bom mesmo é a cena da dança na escada. Essa começa com a fumaça do pito, enquanto Arthur Fleck desliza impecável sua macabrice bizarra, espantando urubus e desafiando a gravidade em seu corpo articulável de clown.

Revanche de Batman? Nem com a mandíbula divina de Ben Affleck

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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