O processo criativo de Bracher: retrato de Deivison Pedroza - Blima Bracher
Blima Bracher

O processo criativo de Bracher: retrato de Deivison Pedroza

Bracher recebeu o empresário Deivison Pedroza em seu ateliê e mostra um pouco de seu processo de criação.

https://www.youtube.com/watch?v=OEQXYzm-nJA&feature=youtu.be

O RETRATO DA ALMA – PINTURA DE CARLOS BRACHER,

por Deivison Pedroza

É Sábado de chuva em Ouro Preto, chegamos pela praça Tiradentes e dali já se via, entre as ladeiras, pessoas caminhando com leveza, desgrudadas da vida cotidiana e tornando-se parte integrante daquele lugar. Via-se olhares longínquos, como se debruçassem em cada detalhe da arte barroca. Nossos olhos faziam curvas que nos levavam às mais belas paisagens. Num breve instante, eis que surge o belo casarão do único artista mineiro que sabe expor em tela, os verdadeiros olhares mineiros, Carlos Bracher.

Lentamente o grande portal de seu casarão se abre. Somos recebidos por sua gentil esposa, Fani. Subimos uma linda e extensa escada em madeira que nos levava ao segundo pavimento. Lá, fomos recebidos por Bracher, como sempre alegre, feliz e esperançoso com a vida. Seu semblante extremamente vivaz, contagiava o ambiente. Mesmo se apoiando em muletas, após ter um de seus joelhos fissurado, permanecia com a disposição de uma criança.

Na sala, observava-se uma antítese, o descontraído e extrovertido Carlos Bracher e eu, empresário Mineiro, Deivison Pedroza, conhecido como inovativo e motivado, mas naquele momento, um completo ignorante das verdadeiras lacunas mineiras.

De um lado um homem das artes e do outro um homem do ambiente empresarial, mas dessa improvável conjuntura nascia ali uma gostosa harmonia entre nós. Naquele momento, havia um misto de entusiasmo e ansiedade de ter a minha alma pintada por ninguém menos que, o inigualável domador de telas e tinta a óleo, Carlos Bracher.

É uma honra me sentar onde grandes nomes se sentaram, tais como: Bibi Ferreira, Milton Nascimento, Chico Buarque, Peter Burke, Vinícius de Morais entre outros. Ali pude ouvir suas ideias como um espectador em um lugar privilegiado na plateia, ouvindo o seu um vasto e apaixonado repertório de histórias de Minas e seus mineiros, narradas pela experiência e sabedoria de um homem de 77 anos, que ainda esbanja jovialidade numa alma sábia.

Não vejo a hora de darmos início a essa imersão artística. Observo de longe a tela vazia, até que suas mãos que se esfregassem, aguardando o momento certo para dar vida ao carvão, com o qual faz a base do meu retrato. Envolvido pela “5ª sinfonia” de Beethoven, Carlos Bracher dá voz a sua expressão, deixando-se transformar em um grande maestro, fazendo daquele momento um Show de movimentos vigorosos e rítmicos.

Em seguida passa para as suas tintas de cores fortes e vibrantes, como se capturasse a minha aura. E na voz de um

mestre, ainda recebo um grande conselho, “A vida é uma maravilha, viver é uma arte, que moldada pelas trocas e interatividades humanas, assim como a música, a tinta leva à nossa frente, a esperança, as alegrias e um momento de energia e mágica de todos os encontros da vida”.

Por detrás da tela, sinto o coração palpitar. Como se em breve fosse conhecer a mim mesmo; conhecer a minha alma. Quem habita o meu corpo? O momento foi imerso à surpresa, assim como uma criança espera pelo pote de sorvete. De repente, deparo-me com minha alma. Ela mais jovem e, diga-se de passagem, mais bonita na tela!

Mas o meu maior presente nesse dia foram os dizeres reproduzidas no verso da tela, pelas próprias mãos de Bracher através do carvão, dizendo em forma poética, profunda e profética, pela verdade que tenho na palavra SONHOS:

Dedicatória de Carlos Bracher a Deivison Pedroza.

Escreveu: “Deivison, sim, eis a vida. Essa que nos toca e anuncia. Como os clarões da aurora, a possuirmos os sonhos de nossa própria história. Você é efetivamente um grande homem. E é isso que buscamos”. Termina assinando em nome de todos ali presentes, sua esposa Fani, sua filha Blima, Bethoven, Keziah, minha esposa, e até a Hanna, nossa cachorrinha que foi apelidada carinhosamente de Estopa.

Pela arte, pela expressão, pelas cores fortes e incrivelmente equilibradas, deixei Ouro Preto em estado catatônico. Momentos esses que se eternizaram através de sabedoria e da arte, e que conseguiram desnudar o meu espírito. Ao mesmo tempo em que esses momentos me alegram, pela catarse de espiritualidade e emoções obsessivas de um grande pintor.

Bracher, um homem apaixonado por tudo, pelo futebol, por Neymar, por Messi, Garrincha e até por Cristiano Ronaldo; um homem fissurado pelas histórias de Juscelino Kubitschek e pela história de Belo Horizonte. Belas histórias, experiências únicas e divinas.

Para minha graça, ele ainda me confessa que seu maior projeto é pintar Belo Horizonte, pintar suas histórias e seus personagens ilustres, no qual deixará seu legado em uma grande tela 2, 70 x 12 metros e em mais 70 outros quadros. Meus pensamentos me envolvem nessa história, fico pensando comigo mesmo, quais seriam os privilegiados a terem essas pinturas, quem em seus ambientes as teriam como parte de sua própria paixão por Minas e por Belo Horizonte?

Apreciar a arte é fabuloso, mas viver a experiência de estar inserido no processo criativo de um grande artista é algo transcendental. Acompanhar cada movimento, manter uma concentração mútua e ser o elemento fundamental para a criação da obra, foi o mesmo que sentir a arte dentro de mim, sendo parte do meu todo. Talvez seja por isso, que Carlos Bracher diz pintar almas e não retratos.

Obrigado pela troca de experiências, Bracher!

Deivison Pedroza

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

Categorias:
Arte
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