Arte

Mineira, Fani Bracher, leva para Brasília obras feitas com matéria do Quadrilátero Ferrífero

“De Pigmentos e Pedras”

Significativo recorte na sua produção recente resulta em síntese perfeita para introduzir o espectador no universo das pinturas, estandartes, caixas e assemblages. As linguagens se particularizam e se comunicam, evidenciando o fio condutor, que é o sensível diálogo com os materiais da terra e a paisagem.

Murilo Mendes, num pequeno poema em italiano, saudou o reino mineral, “dove il disordine è minimo”. Fani, ao contrário, percebe uma desordem fascinante na convulsiva diversidade das formas e do cromatismo. Interessa-se pela caleidoscópica variação da pedra ao pó, tal como são achados na natureza. Uma possível ordem é estabelecida pelo garimpo dos pigmentos, visando a fusão de que sairá a matéria da criação. As cores se definem, plenas de vitalidade, e se apresentam ao público na condição de primeiro movimento do processo da arte. É a partir dos pigmentos que olhar e gesto da artista entram em sinergia para que a obra se instaure, na pintura ou nas caixas.

O tema da paisagem montanhosa, com a presença constante das nuvens, domina a pintura, enquanto a apropriação dos materiais permite que uma instalação se contenha no contexto das caixas. A nuvem é uma forma em colóquio com a montanha, e seus volumes, densos e silentes, rondam as curvas da orografia. A montanha é a suspensão do pó recolhido nos caminhos de terra colorida, evocando os rasgos sangrentos das vossorocas ou a pálida devastação das queimadas ou a misteriosa fusão das sombras no dorso das elevações.

Paisagens de mistério e silêncio parecem buscar a origem da terra e da arte. Um documentário fotográfico mostra a artista andando no leito de um córrego, a coletar pedras de rio, pouco depois a colher areia e terra nas margens e encostas. Os pigmentos e seixos atuam intensamente na obra de arte. Com eles, Fani toca o chão de enigmas sobre os quais desde o princípio caminhamos. E nos faz ver que arte é transcendência.

Pedras
Flor
Lona

Crítica de Angelo Oswaldo de Araújo Santos

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

Posts Recentes

Crônica, por Blima Bracher neste dia da Consciência Negra. Homenagem a Chico Rey, do livro “Lira da Inconfidência “

No meu batuque, se não entro eu, tu não vai entrar Vila Rica de pulsos…

20 de novembro de 2025

Porque insistem, oh velhas pedras?

Porque insistem, velhas pedras, a me sustentarem o corpo? Porque trouxeram-me os tempos de volta…

19 de novembro de 2025

Minha relação de amor e ódio com um senhor italiano nas ruas de Belo Horizonte

Quando o conheci, ele já era um senhor de meia idade. Eu, uma menina recém…

18 de novembro de 2025

Neste novembro chuvoso, trago Lendas Urbanas de BH

Lendas urbanas de BH No alto de um descampado havia uma kafua, onde morava uma…

17 de novembro de 2025

Pouso do Chico Rey tem noite cultural e gastronômica com a presença da historiadora Myriam Ribeiro, os artistas Carlos e Fani Bracher, entre outros grandes nomes

A historiadora Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira é uma das mais importantes historiadores da arqueologia,história…

15 de novembro de 2025

Alunos de escolas de cinco distritos participaram do Programa Estação de Memória e receberam álbum de figurinhas de Engenheiro Côrrea

Mais de 200 alunos da rede municipal de ensino participaram, entre os dias 10 e…

13 de novembro de 2025

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!