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Ouro Preto: projeto turístico e cultural propõe resgate histórico através do vestuário

Quem quiser ter uma ideia do vestuário no auge da época do Ouro , na antiga Vila Rica pode contar com o novo projeto turístico e cultural que será lançado hoje, na Casa dos Contos.

“Ouro Preto é fruto do ouro e da fé, dueto sobre o qual se edificou brilhante civilização. Uma civilização se faz por inumeráveis fatores e pelo conjunto dos valores se perceberá sua grandeza, cuja construção depende da sincronia de múltiplos elementos, do tempo e assentamento de gerações, traduzindo-se no caráter e na identidade, no pressuposto de vertentes lídimas, senso de originalidade e percepção de feitos que se tornam potencializados perante a História.”

Carlos Bracher

 

“Em uma terra onde os nativos andavam nus, os europeus trouxeram uma cultura em que os trajes tinham a função de identificar classes sociais e demarcar as origens de cada um , formando uma intrincada e complexa dinâmica social. Relatos de religiosos, viajantes europeus e governantes portugueses nos trazem informações preciosas sobre o modo de vestir dos habitantes da colônia. A parcela mais abastada da sociedade passou a utilizar a indumentária como forma de marcar a distância em relação à grande massa de habitantes pobres e de escravos. Já os moralistas da Igreja e do Estado, as pessoas que se preocupavam com o chamado “bem público”, condenavam o luxo, a vaidade e a ostentação.
Existem diversos relatos de época contendo informações sobre o luxo do vestuário dos brasileiros. A maioria demonstra certo espanto com as roupas e os modos dos membros da elite, que quase sempre pecavam pelo excesso. No Brasil, os títulos de nobreza eram raros, pelo menos até a chegada da família portuguesa, em 1808, quando D. João VI começou a distribuir honrarias. Formou-se uma casta de fidalgos, geralmente sem título, mas com posses, disposta a provar a todo custo seu caráter nobre.

Na colônia, os hábitos ligados ao vestuário eram caracterizados por alguns paradoxos. Um dos mais interessantes é o contraste entre as roupas de sair às ruas e as adotadas dentro de casa. Até o século XIX, as mulheres fidalgas que viviam no Brasil pouco podiam sair, a não ser para ir às igrejas, em comemorações de datas religiosas, procissões, ou nas festas do Estado. Quando o faziam, sempre acompanhadas de parentes do sexo masculino (pais, irmãos ou maridos) e de suas mucamas, as damas costumavam vestir uma capa ou mantilha (de renda, sarja ou mesmo lã) que lhes cobria todo o corpo e deixava apenas os olhos de fora. Por baixo de tanto recato, vestiam-se à moda francesa, com tecidos de boa qualidade e muitas jóias

No caso dos escravos, a responsabilidade de mantê-los decentemente vestidos era dos senhores. Em geral, estes não se preocupavam em oferecer trajes adequados para os servos. Apenas os escravos “de dentro” ganhavam roupas mais luxuosas, principalmente quando saíam à rua, pois era sinal de prestígio exibir escravos bem vestidos acompanhando seus senhores e senhoras em passeios pela cidade. Os outros costumavam andar seminus, apenas com uma camisa ou calça de tecido grosseiro. ” Márcia Pinna Raspanti. Dize-me o que vestes e te direi quem és. In: Revista História Viva. Ano IX, n. 99. p. 68-73.

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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