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Novembro Negro move Ouro Preto

Apresentações, festas e exposições marcam o mês da consciência negra em Ouro Preto

Uma festa assim só poderia ser “coisa de preto”. Expressão que diversas vezes é usada com cunho racista, ganha nova visão em ações como o novembro negro que tem por objetivo ressignificar, não apenas essas falas carregadas de distorções históricas, mas sim dar um novo significado na vida e trajetória das pessoas pretas em nosso país.

O mês da consciência negra em Ouro Preto foi marcado por apresentações, festas, lives e exposições que aconteceram nos dias 20 e 21 de novembro. As manifestações afro-culturais como os grupos de congado, folias, pastorinhas e danças de fita são símbolos de resistência e ancestralidade vivas no Município. Elas receberam um repasse financeiro no valor de R$ 100 mil reais por meio da Comissão Ouro-pretana de Folclore, com o intuito de manter e valorizar essas expressões artísticas.

A secretária de Turismo Margareth Monteiro destacou o repasse como uma forma de valorização cultural. “É uma data muito importante para a cidade, neste dia estamos valorizando a cultura de Ouro Preto. Esse recurso irá fomentar as ações e suprimir um pouco das dificuldades causadas pela pandemia. Queremos uma retomada com toda força e energia, para que em 2022 seja reverenciada ainda mais a cultura do povo ouro-pretano.”

O diretor da Escola Samba Preto Diego Fernandez e um dos responsáveis pelo evento “Samba Preto: Em Consciência Negra” falou sobre a relevância do dia. “A intenção foi valorizar as tradições ancestrais, culturais e religiosas da região estimulando a reflexão acerca do combate ao racismo. Nossa escola de música está caminhando para fazer sete anos de história e essa semana da consciência negra começou com grandes conquistas. Vamos receber a comenda do Chico Rei, fechamos uma parceria com o Museu da Inconfidência e também com os Rosários, grupo de dança da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Essas conexões nos darão a chance de participar, no ano de 2022, de eventos internacionais na Itália e França, apresentando as tradições artísticas da nossa cidade”.

Neste ano, as ações foram feitas no formato híbrido, com a realização de lives que uniram temas raciais com educação e eventos presenciais com capacidade reduzida, por conta da pandemia de Covid-19. Essa retomada gradual do público e a importância do dia foram os pontos citados por Thiago Antônio, quilombola e um dos integrantes do grupo Arturos Filhos de Zambi, que fez uma apresentação cheia de cor e emoção, no sábado (20), na Casa de Cultura Negra, no Alto da Cruz. “Hoje é um dia de resistência para o povo preto, é um dia que comemoramos nossa consciência e ao mesmo tempo lembrando a morte de Zumbi em batalha. Nessa retomada do público precisamos trabalhar muito, foram praticamente dois anos parados que serviram também como reflexão para todos nós”.

A data, que é sinônimo de festa e resistência, faz referência à morte de Zumbi, líder quilombola brasileiro, que foi o último comandante de um dos maiores quilombos do período colonial, o Quilombo dos Palmares. Essa luta cotidiana pela vida aparece na fala de Kedison Guimarães, diretor de Promoção da Igualdade Social. “Hoje é um grande dia para a nossa população, 20 de novembro, relembra a morte do grande líder Zumbi, grande herói brasileiro, que lutou pela igualdade de um povo. Em nossa cidade temos o herói Chico-Rei, e por todo Brasil, as Dandaras, Chicos, Chicas e diversos Zumbis dos Palmares. Comemorar o dia de hoje é manter firme o propósito em pautas como as de ação afirmativa e de políticas públicas para nossa população preta”.

A vice-prefeita Regina Braga falou sobre a relação dos povos pretos com Ouro Preto, principalmente em sua construção cultural. “Esse povo que construiu a nossa cidade, devemos muito a eles, toda essa nossa tradição, arte e alegria. É um dia sim de homenagens, mas também de reflexão, continuando a nossa luta contra todo tipo de preconceito, desigualdade e violência. Salve nosso povo negro e nossos líderes negros, foi linda essa festa”.

O que é o dia da Consciência Negra?

A data nasce em 1978 quando ativistas do Movimento Negro Unificado (MNU) se reúnem em Salvador e firmam um acordo, que no dia da morte de Zumbi, dia 20 de novembro, seria celebrado o dia da Consciência Negra. Com objetivo de usar a data como lembrança da luta de negros escravizados que se rebelaram contra o sistema escravista da época. Em 2003, o dia foi instituído na legislação, por meio da Lei nº 10.639, definindo o tema “História e Cultura Afro-Brasileira” como componente obrigatório no currículo das escolas brasileiras. Já no ano de 2011, a Lei nº 12.519 oficializou a data como “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”.

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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