Segundo o Membro da Academia de Letras, Carlos Bracher: “Os negros eram tantos, maioria. Qual Zumbi dos Palmares, Ouro Preto teve seu ilustre líder negro: Chico-Rei, o jovem rei africano colhido no Congo e escravizado com um qualquer. Só que não era “qualquer” – era rei. E rei continuou, na premissa das mais nobres estirpes. De escravizado que era, trabalhou duro na mina, alforriou-se, projetou o sonho de si e de toda nação negra.
Segundo lenda, Chico Rei construiu em promessa a Igreja de Santa Efigênia, onde negras traziam na carapinha dos cabelos o ouro em pó, depositando-o na pia, sedimentando fundos para a construção do templo.
Movidos a música, os africanos têm festa no sangue. Guerreiro-da-paz, Chico-Rei restabelece entre nós a alegria, incorporando aos ritos religiosos inúmeros elementos afros, na cultura íbero-cristã, introduzindo congados e reisados às tradições mineiras. Os negros elevaram os sons dos atabaques às culminâncias do órgão. O adro da Igreja de Santa Efigênia era o palco das principais festividades e o ponto de congraçamento dos negros.”
Já em “Acalanto de Ouro Preto”, Murilo Mendes nos fala:
(…) Dormi, dormi embuçados,
marginais, envergonhados
leprosos, fora-da-lei,
vagabundos, revoltados,
órfãos, párias, renegados,
libertos por Chico Rei
que forrou tribos inteiras
africanas, brasileiras,
ei !
Encobre, Ouro Preto, encobre
no alto de Santa Efigênia
o espectro de Chico Rei (…)”
CHICO REI
Na história oral de Minas Gerais, o personagem Chico Rei teria nascido no Reino do Congo, batizado com o nome de Galanga. No reino, era um monarca guerreiro e sacerdote do deus Zambi-Apungo.
Depois de ser capturado junto com seus súditos pelos comerciantes e traficantes de escravizados, chegou no Brasil, através do “Madalena”. De toda a sua família, somente e ele e seu filho sobreviveram na jornada. A rainha Djalô e a filha foram jogadas do navio “Madalena”, como forma de superar a ira dos deuses da tempestade que ameaçava afundar o navio. No Rio de Janeiro foi vendido e levado para a Vila Rica como escravizado.
Seu filho foi junto, e os dois trabalharam como escravezados. Trabalhando em minas de ouro, conseguiu a alforria e a do seu filho. Adquiriu a mina da Encardideira, o que o possibilitou comprar a alforria de seus compatriotas.
Chico Rei e seus compatriotas escondiam o ouro entre os seus cabelos, que lavavam na pia batismal da igreja de Santa Efigênia, com o acobertamento de religiosos.
Todos os libertos o chamavam de “rei”, associaram-se à irmandade de Santa Ifigênia, primeira irmandade de negros livres de Vila Rica. Nessa época, ergueram a Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
No século XVIII, virou monarca em Ouro Preto, antiga Vila rica, na ausência do governador-geral Gomes Freire de Andrada. No dia de Nossa Senhora do Rosário, havia solenidades da irmandade de Santa Efigênia, nas quais Chico Rei era coroado como rei, bem vestido, seguido por músicos e dançarinos, o cortejo que deu origem ao Congado.
Não há comprovação histórica para os relatos biográficos de Chico Rei, é citado apenas numa nota de rodapé no livro “História Antiga de Minas”, escrito em 1904, por Diogo de Vasconcelos.
UM NOBRE AFRICANO EM VILA RICA
Lili Correia de Araújo e Ninita Moutinho escolheram o nome do legendário príncipe africano escravizado para o pouso inaugurado na antiga Vila Rica. Criando assim a primeira pousada de Ouro Preto, o lendário “Pouso do Chico Rey”, em funcionamento até hoje, graças a seu neto Ricardo Correia de Araújo.
Com Blima Bracher e #blimabracher http://@blimabracher
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.