Imagem: Peterson Bruschi
Pesquisadores e ativistas ouro-pretanos participaram da cerimônia de lançamento de um estudo pioneiro sobre o acesso das pessoas negras ao Sistema de Saúde, em Ouro Preto. O evento aconteceu ontem, 20 de novembro, data em que se comemora o Dia da Consciência Negra. O encontro foi realizado na Casa de Cultura Negra, e a iniciativa reúne pesquisadores de todo Brasil a fim de oferecer uma espécie de raio X sobre a saúde desta população principalmente no quesito cuidados específicos, que é um ponto pouco debatido desde o período colonial do Brasil. Nessa época, o país expôs a população negra a situações precárias, durante seu processo de urbanização, isso aconteceu devido à falta de saneamento básico, causando sequelas graves. Trata-se de um estudo de grande relevância para a cidade.
Segundo o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) 70% dos 74.821 moradores de Ouro Preto se declaram pretos ou pardos. Esses dados estatísticos despertaram o interesse de Aisllan de Assis, coordenador técnico da pesquisa e professor de Saúde Coletiva da Escola de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), que vai investigar, em conjunto com um grupo de pesquisadores, a atual situação e necessidades da saúde da população negra, evidenciando fatores sociais, históricos e culturais da saúde dessa população no município. Para Aisllan, o estudo é de extrema relevância, uma vez que traz protagonismo às questões antes anuladas. “É um estudo inédito sobre a saúde negra no Brasil, o ineditismo deste estudo é que será o primeiro do Brasil com base territorial, ou seja, os dados serão produzidos e analisados diretamente nos territórios e comunidades, junto à população negra de Ouro Preto”, afirma.
O prefeito Angelo Oswaldo participou do evento e definiu o momento como histórico, uma vez que Ouro Preto protagoniza o cuidado para a saúde da população afrodescendente, garantindo o acesso ao tratamento adequado precocemente. “Essa era uma pauta antiga e sempre debatida, pois precisamos compreender as causas que levam o adoecimento da pessoa negra. Nós sempre acompanhamos nossa população de perto e com esse trabalho será possível compreender as motivações de diversas doenças, inclusive as cardíacas que causam muitos óbitos entre as pessoas negras”, frisou. Os pesquisadores também irão analisar aspectos predominantes e exclusivos do negro e negra como por exemplo, o reconhecimento da saúde mental, a qualidade do ambiente nos territórios e distritos, a saúde das mulheres, adolescentes e crianças, a saúde dos idosos e idosas, dos homens e dos trabalhadores.
Para o secretário de Cultura e Turismo, Flávio Malta, a pesquisa é a base para um novo futuro, onde a inclusão e oportunidades serão destaques. “Será com base neste documento que o nosso município irá eliminar percepções arcaicas, bem como o racismo estrutural”, finalizou.
Nossa região é reconhecida pelo apoio e preservação das manifestações culturais, como, por exemplo o Congado. É por isso que, para o diretor de Promoção da Igualdade Racial de Ouro Preto e responsável pela direção executiva da pesquisa, Kedison Guimarães, é urgente o fortalecimento e implantação de políticas públicas direcionadas aos cuidados com a saúde e qualidade de vida das pessoas negras, possibilitando um avanço importante na área da saúde. “A importância do estudo é o fortalecimento de políticas de saúde e qualidade de vida da população negra do nosso município. Vamos avaliar as condições de vida e territoriais das comunidades, bairros e distritos da cidade e elaborar um modelo de análise epidemiológica e saúde coletiva da população negra”, destaca.
Sobre a pesquisa
O estudo aprofundado “Saúde da População Negra em Ouro Preto, Minas Gerais: análise da situação de saúde e integralidade do cuidado nos territórios e comunidades” surgiu a partir de uma seleção entre vários projetos, em 2022, que resultou no envio de recursos que chegaram a R$480 mil. A iniciativa foi consolidada a partir de uma emenda parlamentar da deputada federal Áurea Carolina (PSOL). Os trabalhos de coleta de dados terão início em janeiro de 2024, e os resultados serão apresentados no primeiro Seminário de Saúde da População Negra de Ouro Preto, a previsão de término dos trabalhos é em dezembro do mesmo ano.
A apuração será feita coletivamente, como conta o coordenador técnico da pesquisa, Aisllan de Assis. “Nossa equipe é formada por coordenadores, pesquisadores de universidades e órgãos voltados para a saúde, portanto com a realização e conclusão dos estudos novas conquistas são almejadas e por meio do cruzamento de dados que irá possibilitar conclusões sobre a saúde da população negra de Ouro Preto. Será feito um relatório final que será publicado na forma do livro didático intitulado de “Saúde da população negra de Ouro Preto – MG”, este material será distribuído em todas escolas públicas e privadas da cidade histórica, além de ser disponibilizado gratuitamente pela internet.
Sobretudo, o projeto prevê ainda a inauguração da Sankofa – plataforma de pesquisa da saúde e cultura da população negra na Casa de Cultura Negra de Ouro Preto, um espaço todo equipado para realização de estudos e pesquisas. A partir disso, é possível concluir que além de promover um cuidado com o outro, a iniciativa busca propagar o protagonismo negro e resgaste sociocultural na cidade de Ouro Preto.
Durante o evento, foi feito o anúncio de mais um novo projeto, o “Capoeira nas escolas”, que terá início a partir do ano que vem e que tem como objetivo oferecer aulas gratuitas de capoeira para os alunos, onde os jovens irão se aproximar das raízes brasileiras.
Também estiveram presentes no evento, a secretária adjunta de Cultura e Turismo, Margareth Monteiro, o secretário de Desenvolvimento Social e Cidadania, Edvaldo Rocha, os vereadores Alex Brito e Renato Zoroastro, além do coordenador técnico da pesquisa, Aisllan de Assis, a epidemiologista Ana Paula Nunes e o presidente do Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial, Luiz Carlos Teixeira.
Texto: Cíntia Soares / Revisão: Vitor Stutz e Vanência Magela
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