Em Ouro Preto

Rua Direita ou Rua Conde Bobadela , por Carlos Bracher

Reminiscência portuguesa, “rua direita” era o nome dado à via que levava à igreja matriz. Ouro Preto tinha duas, por causa das paróquias do Pilar e do Antônio Dias. A do bairro do Ouro Preto, hoje chamada Conde de Bobadela, nasce na Praça Tiradentes, descendo em direção à Matriz do Pilar. 

Nela pousam telhados e paredes de inúmeros sobrados, numa sucessão rítmica decrescente, compondo o cenário em que a Imperial Capela de São José se levanta ao fundo, deixando livre as nuvens entre sua torre vazada.

Na rua habitava o inconfidente Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, em cuja casa (número 59), se realizaram secretas reuniões, principalmente a decisiva, de 26 de dezembro de 1788, para a tomada do Poder.

Pouco abaixo, do mesmo lado, à esquerda, se vê a única casa de pedra  de cantaria na fachada (número 85), pertence à família do Dr. Rodrigo Mello Franco de Andrade, que a reconstruiu na década de 40 segundo projeto de Lúcio Costa. Entre os amigos de Dr. Rodrigo e D. Graciema estava Guignard, que pintou diretamente na parede o imenso painel de “ Marília”.

Quase em frente (número 110), Guignard povoa em seus quadros, no Museu a ele dedicado. Ali estão obras absolutas no conceito do que seja a grande arte de pintar: os retratos da escritora Lúcia Machado de Almeida e o de um jovem anônimo atestam a definitividade universal do mestre. As cartas desenhadas nos anos 30, de platônica paixão à amada Amalita, jamais enviadas à destinatária, perfazem o semblante lírico do gênio das transparências.

O Museu Casa Guignard se encontra defronte ao Beco do Arieira, que exibe suas pedras no chão e nos muros da casa de esquina, donde flores coloridas pendem delicadamente sobre as pedras.

O Museu lançou o “Mapa dos Passos de Guignard em Ouro Preto”, organizado pelo diretor e artista Gélcio Fortes. A Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais está organizando o “Projeto Guignard”, ao catalogar toda sua obra. 

Na rua Direita, um show se reserva nas chuvas, quando as águas descem profusas dos elevados condutores, vindo bruscas sobre as calçadas e os transeuntes.

Quantas meninas, quantas Marílias passaram por pontes, subiram e desceram esta rua em suas cadeirinhas de arruar! As moças não podiam andar pelas ruas e eram levadas de liteiras até dentro das igrejas.

* A Rua Direita foi eleita das 6 mais belas do mundo.

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

Ver Comentários

  • Texto nostálgico e maravilhoso no qual de pronto recordei-me das magistrais aulas de pintura na Escola Guignard. Realmente, Minas Gerais é o berço político artístico e cultural de todos os grandes movimentos deste país!

Posts Recentes

Balanço da Cobra completa 50 anos no Carnaval de Ouro Preto

Em 2025, o Carnaval de Ouro Preto será marcado por uma celebração especial: os 50…

14 de janeiro de 2025

Inscrições para solicitação de serviços de máquinas agrícolas

A Secretaria Municipal de Agropecuária deu início ao período de inscrições para a solicitação de…

14 de janeiro de 2025

” A fé que canta e danca” encanta Ouro Preto até domingo

Ouro Preto iniciou o ano de 2025 com o evento “A Fé que Canta e…

10 de janeiro de 2025

Ouro Preto realiza força-tarefa no distrito de Santa Rita depois das fortes chuvas

Imagem: Divulgação Defesa Civil Na noite da última segunda-feira (6), o distrito de Santa Rita,…

10 de janeiro de 2025

Natal de Ouro Preto atrai 90 mil pessoas e gera 21 milhões.

Do dia 23 de novembro de 2024 a 6 de janeiro de 2025, Ouro Preto…

6 de janeiro de 2025

Ouro Preto terá queima de fogos silenciosa na Praça Tiradentes

Imagem: Ane Souz Por: Vívian Chagas A Prefeitura de Ouro Preto, por meio da Secretaria…

28 de dezembro de 2024

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!