Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade ganha projeto urbanístico que permite uma melhor mobilidade nas ruas e ladeiras
O planejamento urbanístico oferece acesso irrestrito aos espaços em Ouro Preto.
Imagem: Peterson Bruschi
Os engenheiros civis e urbanistas formados pela Universidade Federal de Minas Gerais, Marcos Fontoura de Oliveira e Ronaldo Guimarães Gouvêa, realizaram uma análise de Ouro Preto entre os séculos XVII e XXI e projetaram uma cidade moderna e inclusiva, preservando sua história, seus fatos e sua riqueza patrimonial. O resultado dessa pesquisa se transformou no livro “Ouro Preto e o Futuro”, lançado nesta sexta-feira (24/05), na Biblioteca Pública Municipal. As ilustrações da obra são de Marcelo Fontoura de Oliveira. Todos os autores são moradores de Belo Horizonte, se declaram apaixonados por Ouro Preto e desejam que, no futuro, a cidade permita que pessoas surdas, cegas e cadeirantes transitem naturalmente pelas ruas, ladeiras, museus e igrejas, entre outros espaços.
No lançamento do livro, em Ouro Preto, estavam presentes autoridades, comerciantes, servidores públicos, estudantes, o prefeito Angelo Oswaldo e a secretária de Educação, Débora Etrusco. “A palavra é de agradecimento pela oportunidade da Biblioteca Pública poder acolher o lançamento de um livro de três autores importantes que falam de Ouro Preto de uma forma fictícia, mas que traz a história e a preservação da cidade. Uma iniciativa de grande importância e a gente recebe isso de uma maneira muito fraterna mesmo”, disse Débora Etrusco.
O prefeito Angelo Oswaldo demonstrou alegria com o fato dos autores trazerem o livro para ser compartilhado com os leitores de Ouro Preto. Ele ressaltou ainda a proposta dos autores, que prevê adequar a cidade às necessidades do conforto moderno: “Nós temos um grande passado e um empolgante respeito pelo futuro. À medida que o tempo avança, esse passado se movimenta, ele não é pretérito, ele não está perdido no tempo. Esse fluxo do tempo é contínuo, ele não para, mas o nosso patrimônio também não vai ficar congelado. Ele passa por transformações e nós temos que ter essa sensibilidade para compatibilizar a preservação do patrimônio com as melhores condições de vida para os moradores e aqueles que usufruem desse patrimônio”.
Marcos Fontoura de Oliveira revelou que o livro é uma declaração de amor à cidade e que representa o que Ouro Preto poderia ser no futuro: “Nós somos engenheiros urbanistas, trabalhamos com mobilidade urbana e sabemos que a cidade pode ser tudo isso que planejamos, para que as pessoas que moram aqui e que visitam a cidade possam se locomover melhor, com mais prazer, autonomia e segurança”. Marcos Oliveira lembrou que o livro é ficção, mas não ficção científica: “É ficção como foi para os inconfidentes, que queriam que o Brasil fosse independente de Portugal. Naquele momento, aquilo era uma ficção, mas se transformou em realidade”.
A “Ouro Preto do Futuro” está programada para ser implantada entre os anos de 2030 a 2040. “Eu tenho 64 anos e ainda estarei vivo até lá. Eu quero viver nessa Ouro Preto do futuro, que será Ouro Preto do meu presente”, finaliza Marcos Oliveira.
Ronaldo Guimarães Gouvêa participou do plano diretor de Ouro Preto de 1992 e foi do Conselho de Transportes da cidade. Ele confessou seu amor pela cidade e disse que sua participação na obra vai além da técnica. Contou que Marcos Fontoura Oliveira foi seu aluno na escola de engenharia e que juntos montaram um texto, cada um escrevendo partes, que depois foram compatibilizadas em um texto único resultando no livro. “Eu gosto muito de falar da história de Ouro Preto, o que ela já foi e continua sendo para o Brasil. Quem fala de Ouro Preto tem que falar de uma cidade que é, ao mesmo tempo, cidade e museu. Então, qualquer solução para essa cidade tem que respeitar esse fato. É uma cidade onde as pessoas estudam, trabalham, vivem e, ao mesmo tempo, é um museu, com toda essa história do barroco mineiro”, esclareceu Ronaldo.
Ronaldo Gouvêa também destacou que a obra se baseia em experiências internacionais: “O que estamos propondo para Ouro Preto não é nada estapafúrdio. São soluções que, de alguma forma, já estão surgindo no cenário internacional. Vamos adaptar essas soluções bem-sucedidas para Ouro Preto, para que ninguém diga que a cidade não é capaz de oferecer, por exemplo, transporte confortável para idosos. Sair do Largo do Rosário e ir para o Largo do Dirceu é difícil para uma pessoa idosa. Precisamos de mecanismos para facilitar a circulação das pessoas nessa cidade”.
O ilustrador Marcelo Fontoura de Oliveira disse que seu maior desafio foi colocar Ouro Preto dentro da inteligência artificial: “A evolução foi drástica no software. Tivemos que treinar a inteligência artificial, explicando o que é Ouro Preto, como é Ouro Preto. Quem sabe, daqui a algum tempo, ela vai saber sozinha, ou a partir dos próprios insights”. A obra traz um QR Code que leva o leitor a um vídeo que apresenta não só a narrativa do texto, mas também a descrição do texto no formato mais inclusivo possível, em Libras. “Algo que aprendi ao construir esse livro é que, embora a pessoa surda veja, muitas vezes ela não é alfabetizada em sua língua”, disse Marcelo.
A capa do livro é uma visão de Ouro Preto da janela: “Um livro rico, classicamente pensado para pessoas com alguma dificuldade de visão ou audição. E o interessante é que, para falar dessa Ouro Preto do futuro, não estamos falando de nada que não exista. As pessoas vão conseguir visualizar muito bem, através das ilustrações e do texto, que ali não tem nada que não exista. Ela é factível, não é utópica, é real”, conclui o ilustrador.
O livro “Ouro Preto e o Futuro” pode ser encontrado na livraria Outras Palavras, em Ouro Preto, em Belo Horizonte e na Amazon.
Texto: Názia Pereira/ Revisão: Jeane Polva
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