Em Ouro Preto

Elefantes viriam pela manhã, coletânea em homenagem a Dalton Trevisan será lançada em Ouro Preto

No volume organizado por Rogério Faria Tavares, treze autoras e autores dialogam com o universo literário do Vampiro de Curitiba, que teria completado 100 anos em 2025

Poucos autores brasileiros provocaram tanta reverência — e tanto mistério — quanto Dalton Trevisan. Rigoroso, minimalista, obsessivo com a forma e avesso à exposição pública, o escritor construiu uma obra que transformou o conto em laboratório da linguagem e território de inquietação. Agora, em 2025, quando completaria 100 anos, Trevisan é celebrado com a publicação de Os elefantes viriam pela manhã – Treze contos à procura de Dalton Trevisan, organizado pelo jornalista, doutor em Literatura e membro da Academia Mineira de Letras, Rogério Faria Tavares.

O livro, que sai pela Autêntica Editora, será lançado em Ouro Preto em 16 de agosto (sábado), com um bate-papo entre o organizador do volume e Emílio Maciel, professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). O evento está marcado para as 10h, na Outras Palavras Livraria (R. Getúlio Vargas, 239).

Os elefantes viriam pela manhã é uma resposta literária à poética de Trevisan: cada conto parte do diálogo com sua obra para tensionar seus temas, estilos e obsessões — e, ao fazer isso, reafirma a vitalidade do conto brasileiro contemporâneo. Como explica o organizador, o volume propõe uma espécie de reescrita coletiva, à maneira do autor curitibano, que reescrevia obsessivamente seus próprios textos ao longo da vida. “Como num palimpsesto, é possível enxergar estas histórias dispostas umas sobre as outras, e todas elas sobre aquelas escritas por Dalton”, escreve Tavares na apresentação.

A coletânea reúne um time de nomes de diferentes gerações e estilos: Noemi Jaffe, Caetano W. Galindo, Carlos Marcelo, Adelaide Ivánova, Cristhiano Aguiar, Luci Collin, Mateus Baldi, Veronica Stigger, Luís Henrique Pellanda, Ana Elisa Ribeiro, Rogério Pereira, Marcelino Freire e João Anzanello Carrascoza.

Os contos percorrem geografias variadas, mas mantêm um elo invisível com o território simbólico de Curitiba, cidade natal de Trevisan. A São Paulo melancólica de Noemi Jaffe, a Recife crua de Adelaide Ivánova e a Campina Grande sombria de Cristhiano Aguiar convivem com a Belo Horizonte de 1947 recriada por Carlos Marcelo.

Curitiba, no entanto, é a espinha dorsal da coletânea: é ali que transita o gateiro de Luís Henrique Pellanda; é onde renascem personagens como Dario e Patachou, de Mateus Baldi; onde a linguagem joyceana de Luci Collin desdobra o cotidiano; e onde se desenrolam os dilemas do “menino magricelo” e da “polaquinha”, revividos por Rogério Pereira.

As tensões entre homens e mulheres aparecem nas encenações de Veronica Stigger e ganham força nas personagens femininas de Ana Elisa Ribeiro, Adelaide Ivánova e Cristhiano Aguiar. Já Marcelino Freire e Caetano W. Galindo prestam tributo direto ao estilo do homenageado: seus contos condensam a síntese, a ironia e a precisão narrativa que marcaram a escrita de Trevisan.

Dalton Trevisan morreu em dezembro de 2024, poucos meses antes do centenário. Discreto até o fim, passou nove décadas quase sem sair da casa onde escreveu boa parte de sua obra — um gesto de silêncio que contrasta com a força explosiva de seus textos. Os elefantes viriam pela manhã honra essa contradição: ao ecoar seus silêncios, amplia a reverberação de sua literatura.

Sobre o organizador
Rogério Faria Tavares é graduado em Direito pela UFMG e em Comunicação Social (Jornalismo) pela PUC Minas. É mestre em Direito Internacional pela UFMG. É Doutor em Literatura pela PUC Minas. Tem o Diploma de Estudos avançados em Direito Internacional e em Relações Internacionais pela Universidade Autônoma de Madri. É membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e presidente emérito da Academia Mineira de Letras, onde ocupa a cadeira de número oito desde junho de 2016. É comendador da Ordem do Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores, desde 2024.

Sobre o convidado
Emilio Maciel é doutor em Literatura comparada pela UFMG e professor associado de Teoria Literária no ICHS (Instituto de Ciências Humanas e Sociais) Mariana. Publicou ensaios sobre Roberto Schwarz, Silviano Santiago, Machado de Assis, Bob Dylan, João Cabral de Melo Neto, Cesário Verde, Giacomo Leopardi, entre outros.
Lançamento dia 10/09 às 10h00 na livraria Outras Palavras em Ouro Preto

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

Posts Recentes

Essa pirua tá bem Mandraka hoje

E eu que 'thanks God" vivi para ver o conceito Mandraka influenciar de novo a…

24 de novembro de 2025

Ela a beijou, e o beijo nao precisava marcar paixão, nem tampouco a promessa de um reencontro

Ela a beijou como a extensão de sua própria carne: tenra, macia, suave, sem pelos…

21 de novembro de 2025

Crônica, por Blima Bracher neste dia da Consciência Negra. Homenagem a Chico Rey, do livro “Lira da Inconfidência “

No meu batuque, se não entro eu, tu não vai entrar Vila Rica de pulsos…

20 de novembro de 2025

Porque insistem, oh velhas pedras?

Porque insistem, velhas pedras, a me sustentarem o corpo? Porque trouxeram-me os tempos de volta…

19 de novembro de 2025

Minha relação de amor e ódio com um senhor italiano nas ruas de Belo Horizonte

Quando o conheci, ele já era um senhor de meia idade. Eu, uma menina recém…

18 de novembro de 2025

Neste novembro chuvoso, trago Lendas Urbanas de BH

Lendas urbanas de BH No alto de um descampado havia uma kafua, onde morava uma…

17 de novembro de 2025

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!