Em Ouro Preto

Aluno acusado de desviar mais de 500 mil de república

O tesoureiro da Associação República Partenon de Ouro Preto, um dos moradores mais antigos, teria desviado verba para a compra de um imóvel próprio. Imagem: Marcel Vincent.
Um aluno de ciências econômicas da Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto) é suspeito de desviar mais de R$ 500 mil da conta bancária de uma república estudantil da cidade. Ygor Fernandes Araújo, 25, conhecido como “Horrível”, era morador e tesoureiro da Arpop (Associação República Partenon de Ouro Preto), que reúne cerca de 60 pessoas, entre alunos e ex-alunos da Ufop que ainda hoje contribuem com a manutenção da casa.

Seus ex-companheiros pedem à polícia que ele seja investigado por furto qualificado e abuso de confiança, . A  república, fundada em 1996 como uma moradia estudantil de baixo custo, buscava recursos com eventos e doações para adquirir uma sede própria — hoje o imóvel, um casarão de 14 quartos, sala de estudo e área externa na rua Cônego Simões, no bairro Rosário, é alugado.

Entre os eventos organizados pelos moradores estavam as tradicionais festas de Carnaval  na república. Na notícia-crime encaminhada à Polícia Civil e ao Ministério Público, a associação conta ter arrecadado, nos últimos 15 anos, R$ 450 mil. O valor que teria sido desviado é superior porque leva em conta outros recursos, como o pagamento de aluguéis pelos

Um dos moradores mais antigos

Em 2022, a associação deu início à aquisição, com contrato de promessa de compra e venda já assinado, de uma casa própria avaliada em R$ 390 mil. Por ser um dos moradores mais antigos da república, Ygor tinha a confiança dos demais associados e foi escalado para gerenciar a conta bancária da associação em dezembro de 2021, quando se tornou tesoureiro do grupo.

Em 2023, a cidade voltou a organizar seu famoso Carnaval de rua após a pandemia — oportunidade para os moradores da república venderem pacotes turísticos, com hospedagem e acesso a blocos de rua e festas promovidas pela casa, além de almoço e bebidas.

Foi nesse contexto que o estudante, segundo seus antigos colegas, teria se aproveitado para desviar a maior parte do dinheiro. Ele teria justificado a movimentação dizendo que precisava pagar fornecedores dos eventos e pagar despesas relativas à compra

No início de março, os integrantes da diretoria foram procurados por advogados ligados a Ygor Araújo dizendo que precisavam falar sobre problemas relacionados à compra da casa. Os moradores souberam assim que havia um rombo nas contas da república — a princípio justificadas como resultado de maus investimentos realizados pelo tesoureiro. Os advogados alegavam que ele passava por problemas de saúde e estava incomunicável.

Desde então, Ygor não responde aos contatos dos amigos.

Os moradores fizeram uma análise das transferências bancárias e notaram uma movimentação atípica, contabilizando uma retirada bruta de, aproximadamente, R$ 600 mil e prejuízo de R$ 514.683,71 (contando dívidas realizadas para a realização do Carnaval). Uma das suspeitas é de que os recursos foram aplicados em plataformas de apostas.

“As informações denunciam que o tesoureiro da requerente estava fazendo ‘desvios’ de recursos das contas desde o momento de posse da sua diretoria”, diz a notícia-crime.

Segundo a acusação, as diversas transações, que até então não passavam do limite de R$ 5 mil, se intensificaram em dezembro de 2022 e início de 2023. O estudante de ciências econômicas teria se aproveitado da véspera de Carnaval e de compra da casa “para aumentar os valores das transferências

Empréstimos e calotes

Os ex-companheiros acusam Ygor de alterar as prestações de contas anteriores, para acobertar o rombo, e de pedir dinheiro emprestado a alguns ex-estudantes. Ele justificava os pedidos dizendo que eram para pagar contas urgentes durante o Carnaval. Um deles chegou a depositar R$ 9 mil.

Além dos supostos desvios, o tesoureiro teria deixado de pagar fornecedores. A distribuidora de cervejas ficou sem receber R$ 7,3 mil. Também não foram pagos os aluguéis de freezers e de caixas térmicas, além de tickets de restaurantes parceiros do evento, água e aluguel relativos a março de 2023.

Diante da situação, os estudantes registraram um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Ouro Preto.

“Ele até então era uma pessoa normal, um cara querido por todo mundo”, diz um ex-morador da república, que prefere não se identificar. “A vida lá é muito regrada, a gente vive fazendo reunião, registra tudo em ata. Mas havia uma relação de confiança e ele sabia o que estava fazendo, não era amador.”

Segundo ele, existe uma seleção com os membros da república para novos estudantes terem o direito de morar na Partenon. É exigido, por exemplo, um rendimento acadêmico mínimo para ficar no local.

Uma vez fechado o grupo, alunos e ex-alunos formam uma espécie de irmandade que levam para além dos anos de graduação. Por isso, os supostos desvios são considerados uma traição imperdoável pelos integrantes da república.

“Somos uma república muito conhecida, muito politizada e muito querida em Ouro Preto. A república tem esse papel de dianteira e todos temos um amor e um orgulho gigante de ter pertencido a ela.” Reportagem Uol

Blima Bracher

Blima Bracher é jornalista, formada pela UFMG e Engenheira Civil. Trabalhou doze anos em TV como repórter e apresentadora na Globo e Band Minas. Foi Editora da Revista Encontro e Encontro Gastrô. Escritora, cineasta e cronista premiada.

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  • Lamento o ocorrido, as repúblicas de Ouro Preto são mt tradicionais. E a organização delas também. De tempo em tempo (mensalmente) um morador é eleito o tesoureiro das contas, de forma a gerir os recursos levantados internamente para ser aplicados na propria república, seja para pagamento de contas, manutenção ou aquisição de algum móvel/eletrodoméstico. E os moradores se orgulham do feito. E esta vida republicana os ensinam a viver socialmente e a gerir recursos orçamentários. Um pena. Tomara que eles dêem a volta por cima e consigam comprar a tão sonhada moradia própria.

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