Por Carlos Bracher (Artista Plástico, Professor Honoris Causa da UFOP e Membro da Academia Mineira de Letras)
Na telúrica promessa de nossos passos indevassados de enigmas, somos barrocos em espírito e matéria, nos gestos de fragilidade desse desejo franco de transpor, sagrar e ressurgir, refluir o pensamento nas hastes da sabedoria, a conquistar a natureza filosófica, oculta do silêncio.
Somos barrocos na volumetria, possessividades e desvarios, na anímica equação de feitos que se tornaram memória, fruição e alentos; barrocos na esférica morfologia angular, vozes e cânticos de lendárias civilizações auríferas; barrocos por descendência do histórico instante setecentista, e não apenas do estilo em si, mas da fatal hipótese de nossas essencialidade psíquica; barrocos por Aleijadinho e Athaíde, alvarengas e gonzagas, poetas, musas, músicos múltiplos sonhadores e deste grito infindo de Tiradentes bradando em sangue a liberdade e a Inconfidência.
Somos sombras de um algo imerso, sopro de longa espera invisível entre paradigmas e ressurreições; volutas que se anunciam concêntricas, órficas de sensações do dentro e do fundo dessa frequência de atavismos lunares clareando a cor, o musgo, o modo. E o somos, ainda, misticismos, fé e fosso, turíbulos, anjos e profetas vagando processionais cortejos, também acalantos de alegria o somos, em estiramentos étnicos distintos, consanguíneos, universais.
Tudo são vácuos de nós mesmos, a face ilesa dos mineiros, retilíneos e frágeis na amplidão, aéreos, versáteis, plurais de mescladas rebeldias, a sempre avançar aos códigos imaginários do futuro. Somos verbo e história de nosso próprio amanhecer, o tempo e o espaço, Minas, as insígnias pétreas despedaçadas, pétalas difusas de permanência que se reciclam a modernidade – onde lá estarão sempre, indeléveis, os mineiros –, na vanguarda de seu próprio destino.
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