Blima Bracher

Os Franksteins de Minas Gerais

Foto reprodução

Crônicas, por Blima Bracher: “Dias antes do rompimento da barragem de Fundão, passamos eu e meu pai pelas bandas de Mariana. Chamou-nos atenção na estrada , na altura de Bento Rodrigues, rumo a Ipatinga uma espécie de rio caldaloso e furioso.. Era um fenômeno desconhecido pra nós, sentimos o cheiro forte, e a terra mole, porém revolta , como se tomasse vida e fosse aos poucos acordando com redemoinhos e ondas lamascentas a acompanhar trecho do caminho. Nos questionamos, o que seria aquela criatura que parecia ter vida própria e era vista por traz de árvores, inquietando a paz interiorana de Bento Rodrigues. Duas semanas depois, como todo o Brasill, assistimos estupefatos ao relato do rompimento de Fundão. Era 6 de novembro de 2015.

Aquela criatura indomável, havia se libertado de suas frágeis amarras, e saira furiosa com sede de morte e destruição.  Sepultou Bento Rodrigues e 19 almas , silenciando risadas impregnadas nas tardes do pequeno vilarejo. Matou memórias, promessas de amores em fotos, casas que se ergueram outrora como a esperança concretizada no suor sagrado do trabalho.  E o monstro não se contentou, aindafurioso rumo ao Espírito Santo, mesclando-se ao suave rio Doce e azedando suas águas com metais pesados rumo ao mar. Um rastro de destruição e morte, que se converteu numa das maiores tragédias socioambientais do planeta.                            Hoje, 5 de novembro de 2021, completam seis anos que aquela fera acordou cuspindo rejeitos e os minérios de Fundão. Tal como Frankstein, ela foi criada  e tinha responsáveis.   Hoje, seis anos depois, centenas de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) fazem protesto, em frente à mineradora Samarco, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, desde a madrugada desta sexta-feira .Buscam respostas e justiça Aquele gigante famintos percorreu mais de 80mil quilômetros quadrados entre Minas e Espírito Santo. No total, o rio abrange 230 municípios que utilizam o seu leito como subsistência.                                                         

E Minas Gerais continua sulcada, com pequenos e grandes Fransteins adormecidos.”

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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