Tem dias em que saio para ofuscar o sol. E olho pra ele convertido em mil partículas de energia contra a luz. Dentro da água sou mais que eu. Miro o horizonte e inicio uma ondulação frenética e caudalosa. Então meu corpo fura a matéria fluida em formas harmoniosamente executadas, rítmicas e deslizantes. Uma perfeita simbiose de movimentos ritmados até que se tornam mecânicos e eu poderia, perfeitamente, me converter num golfinho mar adentro. Meus pulmões expandem e eu já sou híbrida entre um peixe e um ser ainda humano, até que meus pensamentos se diluem na alegria da água batendo em meu corpo peixe. E nado sem espaço e tempo, desafiando Einstein e sua teoria de relatividade. A noite a transformação fica evidente e eu já rolo em marolas espumantes das ondas até a praia. E sou toda cintilante, num beijo aquático com meus irmãos marinhos. Simbiose natura. Natural. Sem plumas ou paetes. Depois volto à fumaça sutil da terra. Volto do transe e, às vezes, mergulho em piscinas. Peixe de aquário sofre. Os cardumes são substituídos por matilhas de hienas ávidas por festas e banquetes. O rei leão e seu séquito faunático deslizam bem em reuniões sedentas por borbulhas alucinógenas. Algumas peruas tiram sua indumentária do armário e se sentem importantes no séquito de "et coetera", que os regis sempre levavam em corte.
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Foto: arquivo de família
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